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A Radiocom foi construída e desenvolve-se à partir das vivências de cada um dos seus “co-arquitetos”.
São sindicalistas, trabalhadores, artistas, pessoas que se dedicam à causa da luta pelo direito de cada um poder expressar-se. São indivíduos que juntos constituem um espaço que Downing chama de esfera pública alternativa ou contra-esfera pública, ou seja, é um fórum que “oferece aos movimentos a oportunidade de conversar entre suas divisões internas, e assim enriquecer-se e fortalecer-se – é um conceito que dirige a nossa atenção para o papel da mídia radical em estimular o debate”.
Partindo do pressuposto de que a comunicação é um direito de todos, a RádioCom 104.5 procura interferir na sociedade para transformá-la através de um processo plural, democrático e participativo na difusão das informações de interesse público. Queremos, através desse canal comunitário, mudar a concepção de comunicação social que existe na atualidade, onde o receptor tem pouca ou nenhuma interferência na construção da noticia. A informação deve pautar-se por interesses ligados a coletividade, procurando promover a inclusão social. Todas as ações promovidas pela RádioCom vão ao encontro da democratização da comunicação no Brasil, a qual se faz urgente. Somente assim, poderemos atingir uma sociedade verdadeiramente democrática e socialmente justa.
Há vinte anos a RádioCom está no ar para democratizar o acesso e a participação da sociedade no processo de construção da informação. Dessa forma, busca contribuir com a formação crítica dos seus ouvintes e colaboradores. É uma proposta que valoriza a construção da cidadania, visto que os pilares que sustentam esse canal comunitário são justamente a coletividade e a disseminação da cultura e da informação por meio da interferência ativa dos ouvintes da rádio sem qualquer tipo de hegemonia política ou comercial.
A história da Rádiocom inicia no ano de 1998, à partir da iniciativa de algumas pessoas e sindicatos de trabalhadores de Pelotas. Inicialmente tomaram a frente do projeto o Sindicato dos Bancários e o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Cooperativas da Alimentação, o STICAP. Estes sindicatos, ao observarem a importância da necessidade da democratização dos meios de comunicação no Brasil e o seu papel enquanto entidades que representam os trabalhadores das suas categorias específicas e, mais do que isso, a luta geral dos trabalhadores na dimensão da política de caráter solidário e classista defendida pelos princípios dos quais ambos são signatários no âmbito da sua organização nacional através da Central Única dos Trabalhadores – CUT , definiram um calendário de encontros para iniciar a construção de uma rádio comunitária de caráter popular em Pelotas.
Desde as primeiras reuniões, ocorridas no Sindicato dos Bancários, que foi o “berço” da Radiocom, definiu-se que seriam seguidos os princípios que regiam o movimento nacional de rádios comunitárias, através da sua associação: a ABRAÇO. Iniciou-se aí um processo de trocas de experiências com reuniões abertas à comunidade e que, ao longo do tempo, foram agregando mais sindicatos de trabalhadores, movimentos e pessoas da comunidade.
Entre os setores que compuseram o “mosaico” inicial da experiência da Radiocom estavam, além de representantes de diversos sindicatos, o movimento hip-hop, artesãos, músicos, ambientalistas, estudantes, curiosos, jornalistas, movimento negro, radialistas excluídos das rádios oficiais, etc. Um dado interessante é o de que, pelo fato da iniciativa de construção da emissora haver partido de sindicatos de trabalhadores, poderia haver o risco da emissora assumir um caráter de “rádio sindical”, porém desde o início o projeto orientou-se na perspectiva de um meio plural, aberto as iniciativas existentes na comunidade.
Os primeiros desafios do processo de construção da emissora eram a parte legal, o financeiro e o caráter da emissora. Os sindicatos mobilizaram-se e estabeleceram uma política de cotas para que fossem comprados os equipamentos. Paralelo a isso realizaram-se as discussões para a definição da potência da rádio, localização, modelo de gestão e conteúdo de programação.
Ficou definido que a emissora teria como princípios a luta pela liberdade e democratização dos meios de comunicação, dar voz aos movimentos sociais que são geralmente excluídos da mídia oficial local, denunciar os abusos da mídia oficial, ter programação voltada para a informação e educação, valorizar a cultura local e popular e proporcionar a participação da sociedade na emissora.
O período de gestação da Radiocom durou de 1998 até 2001, com incessantes reuniões e debates acerca do tipo de música que deveria e que não deveria tocar, de como seria a programação informativa, os programas, etc. Em 1999, após duas assembléias gerais abertas à comunidade e divulgadas com edital público nos jornais locais, foi realizada a fundação da Associação Cultural Radio Comunidade FM de Pelotas – Radiocom. Logo a seguir, com a legalização da associação, deram-se os encaminhamentos de envio de documentação ao Ministério das Comunicações com pedido de liberação de um canal de Rádio Comunitária para Pelotas, o que até hoje não foi deferido.
A Radiocom teve uma primeira experiência no ar, algo como uma pré-estréia, ao transmitir ao vivo do pátio do antigo Instituto de Ciências Humanas da UFPEL, um evento organizado pelo movimento negro de Pelotas: foi o 1º Encontro da Consciência Negra, que ocorreu no dia 18 de novembro de 2000. Os “rádiocomunitários” transferiram para o local todo o aparato de equipamentos da emissora para a realização da transmissão. O detalhe curioso é que a antena foi instalada no alto de um bambu, que foi tirado do varal de secar roupas da casa dos pais de um dos membros da rádio. Finalmente no dia 12 de junho de 2001 a Radiocom entrou no ar. As coordenações são as seguintes : coordenação geral , financeiro, administrativo , programação , eventos , operação e patrimônio.
Segundo a definição do sociólogo e ativista dos direitos humanos, Hebert de Souza, “o termômetro que mede a democracia numa sociedade é o mesmo que mede a participação dos cidadãos na comunicação”. A RádioCom preocupa-se em estar sempre posicionada ao lado dos agentes da transformação social. Dessa forma, a rádio não apenas divulga para o público ouvinte uma determinada informação e sim, convida-o para participar desse processo, sendo este um diferencial importante da RádioCom para os de mais veículos de comunicação local.
O caráter social, crítico e reflexivo das informações e músicas veiculadas na RádioCom se devem, em grande parte, a base de sustento e organização social, política e econômica deste veículo. Mantida por sindicatos de trabalhadores da cidade de Pelotas e demais cidadãos descontentes com os atuais rumos da comunicação no Brasil e conscientes da necessidade de participar no processo de formação e difusão das mensagens em meio a sociedade. A RádioCom está propondo uma nova forma de fazer comunicação em Pelotas e, recentemente, via internet, estende esta proposta ao mundo inteiro, por meio do sitio da rádio, www.radiocom.org.br.
A RádioCOM segue os princípios éticos da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (ABRAÇO), a qual declara em seu artigo 2° que, “situa-se no campo dos movimentos populares, sendo seus associados comprometidos com os interesses e lutas destes setores sociais, marcadamente contra qualquer forma de exclusão, discriminação ou preconceito, seja de raça, gênero, religião, orientação sexual, convicção política ideológico partidária ou condição social”.
Além disso, esse veículo comunitário entende que a comunicação é um direito de todos e não uma concessão das autoridades. Por isso, dentre os princípios éticos que regem a participação dos ouvintes durante as 17hs diárias de programação cultural da rádio, está o disposto no artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos do Homem,“Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.”
O entendimento do papel político e social deste veículo de comunicação não se limita à programação informativa da rádio. Por meio da programação musical, também ressaltasse o papel importante da diversidade cultural e da valorização da cultura local e regional brasileira, princípios essenciais da proposta de comunicação livre e educativa que a RádioCom se propõe a fazer. São cerca de 85 rádio-companheiros (pessoas que contribuem para a construção e manutenção desse canal comunitário) dedicando-se a levar para a comunidade pelotense um projeto de comunicação independente que abrange as lutas sociais da maioria silenciosa, ou seja, dos grupos sociais excluídos nos veículos de comunicação tradicionais.
A RádioCom entende que é possível transformar o paradigma de comunicação existente na atualidade, o qual propõe que a informação é uma apenas uma mercadoria e os receptores meros consumidores de uma versão factual da realidade. A proposta da rádio é simples e clara, “não há pessoas nem sociedades livres sem liberdade de expressão e de imprensa. O exercício desta não é uma concessão das autoridades; é um direito inalienável do povo” (um dos princípios adotados pela Conferência Hemisférica sobre Liberdade de Expressão realizada em Chapultepec, México, D.F., no dia 11 de março de 1994).