Áudios obtidos pela PF mostram militares dispostos a uma ‘guerra civil’ para manter Bolsonaro no poder
2021 na política internacional: tentativa de golpe nos EUA, protestos e a volta da fome
A história de 2021 está escrita. O Brasil de Fato elencou alguns dos acontecimentos mais marcantes do ano. Ao mesmo tempo que o Equador elegeu um banqueiro de direita, Guillermo Lasso, outros três países da região tiveram vitórias da esquerda: Peru, Honduras e, mais recentemente, Chile.
O Haiti segue notícia por motivos trágicos e a Argentina concede aposentadoria para mulheres que saíram do mercado de trabalho para se dedicarem ao cuidado dos filhos. Confira a lista:
Janeiro
O ano começou com uma tentativa de golpe de Estado nos EUA. Donald Trump foi gravado pedindo para o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, "encontrar" votos favoráveis ao partido Republicano nas eleições presidenciais de 2020 e, dias depois, o Capitólio foi invadido por extremistas partidários de Trump. A invasão tinha como objetivo impedir a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden e foi incentivada pelo republicano, que realizou um comício em Washington no mesmo dia do episódio. Cinco pessoas morreram no incidente e quatro policiais que faziam a segurança do Capitólio no dia da invasão cometeram suicídio ao longo de 2021.
No México, por meio de decreto, o presidente Andrés Manuel López Obrador proibiu o agrotóxico glifosato e o milho transgênico. O país terá prazo de três anos para se adequar à norma, mas já está em vigor a proibição de uso do agrotóxico por órgãos públicos e também o licenciamento de novas plantações transgênicas de milho.
Fevereiro
O começo do ano também foi marcado pela “revolta das sardinhas”, quando pequenos investidores se uniram por redes sociais para desafiar Wall Street. Colocando dinheiro em ações de uma empresa desacreditada por fundos de investimento, os pequenos investidores conseguiram trazer prejuízo para peixes grandes do mercado financeiro e levantaram debates sobre a regulação do setor financeiro.
Já no Haiti, o então presidente do Haiti, Jovenel Moïse, ignora o fim do seu mandato em 7 de fevereiro, e continua no poder. Juízes do país da América Central entram em greve contra o mandatário e denunciam uma tentativa de mudanças nas regras do judiciário que estariam em desacordo com a Constituição. Partidos de oposição e movimentos populares também se mobilizam para que Moïse deixe o poder. Poucos meses depois, Moïse seria assassinado.
Março
A Guerra na Síria completa 10 anos. O conflito que envolve Estados Unidos, Rússia, Israel e outras nações já custou mais de 400 mil vidas, com aproximadamente 117 mil civis assassinados. Em 2017, a ONU classificou a guerra no país como "pior desastre causado pelo homem desde a Segunda Guerra Mundial". Metade da população síria se encontra refugiada em outras partes do mundo.
Na Bolívia, a ex-presidenta e uma das lideranças do golpe de 2019, Jeanine Áñez foi presa. A ex-senadora de direita se autoproclamou presidenta após o golpe, ordenou a repressão contra movimentos sociais e tentou adiar as eleições presidenciais em três ocasiões. Áñez segue detida.
Abril
O Equador elege o direitista Guillermo Lasso após o banqueiro vencer o postulante de esquerda, Andrés Arauz, no segundo turno das eleições presidenciais. As eleições para o Congresso equatoriano formaram um legislativo fragmentado, com nenhum partido com o número de cadeiras necessárias para formar uma maioria.
Em Angola, as autoridades do país decidiram proibir as atividades da rede Record de Televisão no país. Alegando "inconformidades legais", outras iniciativas de comunicação da empresa brasileira como jornais, revistas, sites e rádios também foram encerradas pelo governo angolano.
Maio
Na Colômbia, protestos convocados após o presidente Iván Duque anunciar uma reforma tributária aumentam de escala e governo decreta intervenção militar em oito estados. 80 pessoas foram assassinadas por agentes públicos de segurança durante as manifestações, afirmou o Indepaz. Relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) sobre os atos indicou o "uso desproporcional da força, violência baseada no gênero, violência étnico-racial, contra jornalistas e médicos, irregularidades no traslado de proteção e denúncias de desaparecimentos".
Na Palestina, por 11 dias consecutivos, Israel bombardeou a Faixa de Gaza. Os ataques deixaram ao menos 232 palestinos mortos, incluindo 65 crianças, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Os ataques são encerrados após a assinatura de um acordo de cessar-fogo proposto pelo Egito. Bombas de Israel destruíram o prédio que abrigava escritórios da emissora catari Al Jazeera, da agência norte-americana Associated Press e outros veículos de comunicação.
Junho
A esquerda triunfa nas eleições presidenciais do Peru com a vitória do professor e sindicalista Pedro Castillo. Derrotada no segundo turno, Keiko Fujimori afirma sem provas que o pleito foi fraudado e se nega a reconhecer ter sido vencida. Desde então, a direita peruana já tentou fazer o impeachment do líder esquerdista, que tenta impulsionar uma reforma agrária no país.
Depois de 12 anos, Israel elegeu um novo primeiro-ministro. Desgastado por denúncias de corrupção, Benjamin Netanyahu deixou o poder e o novo premiê Naftali Bennett assumiu. Bennett tem posições liberais relacionadas aos direitos LGBT, mas defende fortalecer a presença militar e anexar grandes partes da Cisjordânia, opondo-se publicamente à solução de dois estados.
Julho
Com o Programa Integral de Reconhecimento de Tempo de Serviço por Tarefas Assistenciais, a Argentina garantiu a aposentadoria de 155 mil mulheres que saíram do mercado de trabalho para se dedicarem ao cuidado dos filhos. Enquadram-se no programa mulheres com 60 anos de idade ou mais que não completaram os trinta anos de atuação no mercado necessários para se aposentar.
Já no Chile, como resultado de massivas manifestações populares, a Convenção Constitucional do Chile se colocou de pé. E o fórum que está escrevendo a Constituição que substituirá a Carta Magna da ditadura de Alberto Pinochet elegeu como sua presidenta Elisa Loncón, professora de Linguística da Universidade de Santiago e indígena mapuche.
Agosto
O Talibã toma Cabul e volta ao poder no Afeganistão. O avanço do grupo e a tomada da capital acelera a saída das tropas dos Estados Unidos, que abandonam o país do Oriente Médio após duas décadas de invasão. A Guerra no Afeganistão deixou cerca de 171 mil mortos. Entre as vítimas fatais estão mais de 47 mil civis. O custo financeiro também foi elevado, os Estados Unidos gastaram US$ 2,26 trilhões em suas operações no Afeganistão e também no vizinho Paquistão. A volta da Talibã ao poder preocupa as mulheres do Afeganistão.
Já na China, Pequim lança uma ofensiva regulatória no setor dos aplicativos e aumenta as regras de segurança digital. O governo também determinou que trabalhadores de aplicativos de entrega devem ter vencimentos superiores ao salário mínimo do país, acesso a serviços de seguridade social e a um sindicato. O setor de educação também passou por modificações. Novas regras determinaram que as escolas privadas agora deverão ser entidades sem fins lucrativos e foram proibidas de abrir o capital. O investimento estrangeiro no setor também foi restringido.
No mesmo mês de agosto, foi divulgado que, em 2020, o TikTok superou o Facebook e se tornou o aplicativo mais baixado do mundo.
Setembro
Reportagem do Yahoo revela que a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) considerou e fez planos para assassinar ou sequestrar Julian Assange em 2017. De acordo com a publicação, o então diretor da CIA, Mike Pompeo, era um dos promotores da ideia porque ficou enfurecido com a publicação pelo WikiLeaks de uma série de documentos secretos da inteligência estadunidense. Detido em uma prisão de segurança máxima em Londres, o judiciário britânico abriu caminho para autorizar a extradição do fundador do WikiLeaks para os EUA.
Ainda em setembro, Cuba anunciou que vacinou 80% da sua população com ao menos uma dose de seus três imunizantes próprios: a Soberana 02, Soberana Plus e a Abddala, tornando-se o primeiro país da América Latina a atingir esta marca.
Outubro
Os Pandora Papers foram mais uma revelação do uso de paraísos fiscais por políticos e empresários para pagar menos impostos. O uso de offshores não é por si só uma prática ilegal, mas serve como uma ferramenta para os poderosos pagarem menos impostos. Além do ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, terem sido flagrados nos Pandora Papers, outras autoridades da América Latina, como os presidentes do Chile e do Equador, também integram a lista.
Já nos EUA, um vazamento no estado da Califórnia despejou mais de 470 mil litros de petróleo no Oceano Pacífico. A empresa responsável pelo crime ambiental, a Amplify Energy, acumula mais de 70 notificações ambientais. O incidente fez com que organizações ambientais reafirmassem seu pedido para que os Estados Unidos coloquem um fim nas concessões de exploração de petróleo no oceano.
Novembro
Após o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mais uma vez, alertar o mundo sobre as consequências trágicas da atual exploração de combustíveis fósseis para o nosso futuro, o mundo se reuniu na mais importante cúpula climática da diplomacia mundial, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP), a COP26. O evento, contudo, teve acordos tímidos, focados em falsas soluções, e movimentos populares denunciam que as autoridades não foram ambiciosas o suficiente.
Já nas eleições legislativas argentinas, após as prévias demonstrarem um cenário pouco promissor, a coalizão governista Frente de Todos (FdT) conseguiu conter parte do prejuízo. A coalizão do presidente Alberto Fernández forma o maior bloco da Câmara dos Deputados, mas perdeu a maioria no Senado, viu a direita avançar e a eleição do extremista de direita Javier Milei.
Dezembro
Dezembro terminou com duas vitórias políticas para a esquerda na América Latina. Em Honduras, mais de uma década depois do golpe de Estado que afastou o então presidente Manuel Zelaya do poder e inaugurou uma era de privatizações, a esquerda volta a ter o mais importante cargo do Executivo com Xiomara Castro. Ela defende uma agenda feminista que inclui criar espaços de acolhimento e proteção a mulheres em situação de violência doméstica, também defende a despenalização do aborto e paridade salarial entre homens e mulheres.
No Chile, o esquerdista Gabriel Boric venceu o candidato da extrema direita, José Antonio Kast, no segundo turno das eleições presidenciais. Após receber a maior votação da história do país, Boric afirmou em discurso que busca "construir pontes para que nossos compatriotas vivam melhor" e destacou que "o respeito pelos direitos humanos é sempre um compromisso inabalável".
Por outro lado, o ano terminou com dados alarmantes sobre a fome. América Latina e Caribe é a região em que a fome mais cresceu no mundo, diz estudo da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2020, a fome cresceu 30% na região e atingiu 59,7 milhões de pessoas. Segundo o levantamento, a prevalência da fome na região chega a 9,1% e é a mais alta em 15 anos. Outro dado revelado pelo relatório é a perspectiva de gênero sobre a problemática. Mulheres representam 41,8% da população em situação de fome; enquanto para os homens, a fome atingiu 32,2% deles.
Edição: Arturo Hartmann/ Brasil de Fato
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