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Aumenta a transmissão da covid entre crianças. ‘Impacto da flexibilização’, alerta Fiocruz
O Brasil ultrapassou ontem (28) a marca de 607 mil mortos por covid-19. O surto no segundo país com mais vítimas no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, encontra-se em tendência de estabilidade. Apesar de melhor diante do histórico, trata-se de um patamar elevado. Nas últimas 24 horas, morreram 389 pessoas. A média diária de vítimas, calculada em sete dias, está em 341. Embora os resultados da vacinação sejam claros, o fim precoce de medidas sanitárias preocupa cientistas. “É necessário cautela e acompanhamento do impacto das medidas de flexibilização em decorrência da interrupção na tendência de queda“, aponta a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
O último boletim InfoGripe, da Fiocruz, também divulgado hoje, revela que a situação não está sob controle. “O número de casos de SRAG segue abaixo dos picos de março e maio deste ano, porém mantendo valores superiores aos de 2020. Houve apenas um leve aumento nas últimas semanas em alguns locais, mas se mantendo dentro da média recente”, aponta o responsável pelo boletim, Marcelo Gomes. O pesquisador ainda aponta para um forte crescimento no número de casos de outros vírus respiratórios, especialmente entre crianças. “A análise verificou que na faixa etária de zero a nove anos houve aumento significativo de registros de outros vírus, com valores semanais superiores aos observados para covid-19”.
Crianças em foco
Gomes chama a atenção para que o aumento de casos de síndromes respiratórias em crianças tem a ver com o grupo ter maior risco com o fim das medidas de restrição. “Isso, fundamentalmente por conta da maior exposição das crianças. Elas circulam mais, voltaram para as escolas, isso faz com que a transmissão seja mais frequente. Não só em relação à covid, como em relação a outros vírus. Precisamos ter um contato atento no ambiente escolar. Turmas reduzidas é fundamental para o ensino em si, mas também para reduzir os riscos de infecções respiratórias. É essencial também manter salas ventiladas, arejadas, e manter o uso de máscaras”.
O fato é que as crianças podem ser mais resistentes de modo geral à covid-19. Entretanto, existem riscos acentuados de covid longa, quando os sintomas permanecem por maior tempo, e também, elas acabam transmitindo os vírus para adultos, além de pessoas do grupo de risco, como idosos e imunossuprimidos. Cientistas apontam que o controle da covid é essencial, já que não existe vacina com 100% de eficácia. Por se tratar de um vírus com alto grau de transmissibilidade, em um cenário de descontrole, menos mortes, graças às vacinas, continuam sendo muitas.
A liberação do uso de máscaras em locais abertos, como visto hoje no Rio de Janeiro, é um exemplo de medidas ainda necessárias e deixadas de lado. Existem amplos impactos possíveis de mensurar, como afirma a professora especialista em imunologia Letícia Sarturi. “Sobre a não obrigatoriedade de máscaras em locais abertos, eu só consigo pensar numa coisa: vocês estão moldando um comportamento social e depois, se der errado, dificilmente vão conseguir exigir novamente o uso”. aponta.
“Países que fizeram isso muito precocemente se arrependeram e voltaram atrás. A não obrigatoriedade do uso em locais abertos pode levar ao pensamento de que a pandemia acabou. As pessoas vão deixar de usar máscaras em locais fechados também. Deixaremos de reforçar a principal forma de prevenção da covid, além das vacinas. Ao ver gente sem máscara o comportamento de quem tá usando é moldado a não usar também. Não vão conseguir convencer a usar máscara novamente, se isso resultar em aumento no número de casos”, completa.
Gabriel Valery
Da RBA
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