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Bibliotheca Pelotense será restaurada com investimento de R$ 1 milhão

Bibliotheca Pelotense será restaurada com investimento de R$ 1 milhão

Em um momento em que o Rio Grande do Sul debate a reconstrução de suas estruturas e memórias após os desastres climáticos de 2024, a recuperação de espaços simbólicos ganha destaque. A Bibliotheca Pública Pelotense, patrimônio histórico fundado em 1875, receberá R$ 1 milhão para obras de restauração. O recurso é parte de um investimento maior que busca preservar bibliotecas em diferentes regiões do estado, reacendendo o compromisso com a cultura como ferramenta de reconstrução social.

O anúncio foi tema da edição desta quarta-feira (30) do programa Contraponto, da RádioCom. A convidada foi a gestora cultural Beatriz Araújo, ex-secretária de Cultura de Pelotas e do RS, atualmente à frente da implementação do Instituto Banrisul Cultural. Ela detalhou o processo de restauração da Bibliotheca e falou sobre o valor simbólico do espaço, além das perspectivas de fomento descentralizado para a cultura gaúcha.

A força simbólica da Bibliotheca Pelotense

Fundada por cidadãos pelotenses em 1875, a Bibliotheca Pelotense é uma das mais antigas do Rio Grande do Sul e carrega consigo uma profunda carga simbólica para a cidade e o estado. Ao longo de 150 anos, o prédio foi palco de iniciativas fundamentais — como a primeira escola voltada a crianças negras libertas — e abrigou inúmeros momentos da história cultural local. 

“Ela não é só um espaço de guarda de livros, mas de acolhimento, de ativismo, de produção cultural”, enfatizou Beatriz. Durante períodos em que outros equipamentos culturais da cidade estavam fechados, a biblioteca serviu de casa para festivais, apresentações artísticas e reuniões de trabalhadores da cultura. Beatriz relembrou que muitas mobilizações importantes tiveram início ali: “Quando estávamos descontentes com algo, a biblioteca era nosso ponto de encontro”.

O valor afetivo e a função pública da Bibliotheca se mantêm vivos graças à sua constante abertura para a comunidade. “Ela sempre foi um ponto de convergência. Acolhia quando ninguém mais acolhia”, disse a gestora, emocionada ao lembrar de suas próprias memórias no local.

Recuperação estrutural e desafios da manutenção

O valor de R$ 1 milhão destinado à Bibliotheca será utilizado prioritariamente na recuperação do telhado, considerado o ponto mais crítico da estrutura. “É por ali que os danos começam”, explicou Beatriz. A água das infiltrações compromete rebocos, madeiramento, esquadrias e toda a estrutura. Segundo ela, essa deterioração é agravada pela ausência de uma zeladoria permanente, o que acaba exigindo grandes obras de tempos em tempos.

A gestora lembrou que a última grande restauração do prédio foi concluída em 2007, e que esta será a quarta vez que acompanha um processo de recuperação da biblioteca. “Se houvesse manutenção constante, não precisaríamos de restaurações tão frequentes”, disse. Ela também fez um apelo direto aos gestores: “Se alugam o salão e entra recurso, que seja contratado alguém para subir no telhado e verificar os dutos, fissuras... Isso é cuidado com o bem público”.

A primeira etapa da obra, já iniciada, deve ser concluída em novembro, em celebração ao aniversário da instituição. A expectativa é que, se houver sobra de recursos, outras melhorias também possam ser feitas. A parte técnica está sob responsabilidade da arquiteta Helenice Macedo, que elabora o diagnóstico completo da edificação.

Instituto Banrisul Cultural e a descentralização dos investimentos

Embora ainda em fase de implementação, o Instituto Banrisul Cultural nasce com um foco claro: fortalecer a cultura de forma descentralizada. Beatriz explicou que, mesmo antes da aprovação legal do instituto, o Banrisul já autorizou o investimento de R$ 10 milhões em bibliotecas públicas, contemplando cerca de 40 instituições em todo o estado.

Segundo a gestora, a escolha da Bibliotheca Pelotense como o primeiro projeto não foi por acaso: “Foi um reconhecimento simbólico e afetivo, por tudo que ela representa”. Beatriz defende que a descentralização deve ser regra, não exceção. “Durante minha gestão na Secretaria de Cultura, lutei para que o Conselho Estadual tivesse representantes de todas as regiões. Como alguém de Porto Alegre pode entender as necessidades de Caçapava, Pelotas ou Erechim?”, questionou.

O novo instituto, quando criado oficialmente, atuará de forma autônoma em relação ao departamento de marketing do banco, e trará projetos como o Portal das Artes — um espaço digital de memória das artes no RS — e o Banrisul Entre as Artes, uma escola livre e itinerante. “A arte vai acontecer onde houver chão: na calçada, nas bibliotecas, nos terreiros”, afirmou Beatriz com entusiasmo.

Cultura, reconstrução e o desafio do reconhecimento público

O papel da cultura em tempos de reconstrução foi outro ponto destacado na entrevista. Beatriz foi enfática ao lembrar o que sustentou emocionalmente as pessoas durante a pandemia: “Se conseguimos manter a saúde mental naquele isolamento, foi graças à arte. Livros, música, filmes...”. Para ela, ainda é necessário romper com a lógica de que o investimento em cultura seria um desperdício.

Ela criticou os comentários que surgem sempre que se anuncia apoio a manifestações culturais como o Carnaval, em especial em redes sociais. “Não se trata de tirar de um setor para colocar no outro. Cada área deve ter seu quinhão. A cultura é parte essencial da vida e da economia, assim como a agricultura ou o saneamento”, afirmou. Para Beatriz, é preciso seguir ampliando a conscientização da população sobre o valor da cultura como vetor de desenvolvimento humano e econômico.


Imagem: Arqbiblio (Bibliotheca) e reprodução do Contraponto no YouTube.

*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.


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