Em entrevista concedida nesta segunda-feira, 10 de março, Edson Planella, presidente da Associação das Entidades Carnavalescas de Pelotas (Assecap), trouxe detalhes importantes sobre a realização do Carnaval de Passarela 2025. A festa popular, que reúne escolas de samba do grupo especial, mirins, bandas carnavalescas e blocos burlescos, ocorrerá nos dias 25, 26 e 27 de abril. A decisão de realizar o evento fora do calendário tradicional foi motivada por limitações orçamentárias e burocráticas.

Durante o programa Contraponto, transmitido pela RádioCom Pelotas, Planella explicou os bastidores das negociações com o poder público, apontou os avanços conquistados na estrutura do evento, falou das expectativas de público e lamentou a ausência da Telles, uma das principais escolas de samba da cidade. Ele também reforçou o papel da Assecap como articuladora das entidades carnavalescas e cobrou mais protagonismo da prefeitura nas próximas edições.

Definição do cronograma com o novo governo

O processo de articulação para a realização do Carnaval 2025 começou ainda em dezembro do ano passado, durante a transição da gestão municipal. De acordo com Edson Planella, a Assecap se antecipou e protocolou documentos solicitando apoio para a realização da festa, mas só obteve sinal verde após a posse do novo prefeito, Fernando Marroni, já em janeiro.

Apesar da sinalização positiva da equipe de transição, as definições esbarraram nas dificuldades burocráticas da administração pública. “Tínhamos receio de que a prefeitura não conseguisse licitar tudo a tempo. Sabemos que os trâmites são lentos e o carnaval exige uma preparação extensa. Por isso, era importante saber se a Secretaria de Cultura teria condições de ser a executora direta do evento”, afirmou.

A Secretaria Municipal de Cultura (Secult) chegou a assumir parte da organização do evento, em parceria com a Assecap. No entanto, diante da burocracia dos processos licitatórios e do curto prazo, ficou definido que a associação continuaria sendo a executora do carnaval em 2025. A Secult, por sua vez, participa da coordenação e do planejamento da festa, como parte do compromisso assumido pela nova gestão de fortalecer sua atuação na área cultural.

Com a confirmação desse arranjo, a negociação passou a envolver a montagem de um orçamento viável. O valor inicialmente previsto no orçamento municipal era de R$ 390 mil, considerado insuficiente para cobrir os custos da estrutura e dos cachês das entidades. A partir de articulação com vereadores, a Assecap conquistou R$ 300 mil em emendas impositivas, alcançando cerca de R$ 700 mil para viabilizar o evento.

Carnaval fora de época: dificuldades e contexto histórico

A escolha por datas em abril não é uma novidade em Pelotas. Segundo Planella, o município enfrenta um histórico de descontinuidade na política de fomento ao carnaval. “A dificuldade não começa agora. Em 2013, houve uma ruptura drástica no financiamento público da festa. De cerca de R$ 2 milhões, o investimento caiu para R$ 350 mil, sem diálogo prévio com as entidades”, recordou.

O corte orçamentário foi determinado na época pelo então prefeito Eduardo Leite, hoje governador do Rio Grande do Sul. Segundo Planella, a decisão foi repentina, anunciada em outubro de 2013, poucos meses antes do início da preparação do carnaval de 2014, o que inviabilizou a manutenção do modelo existente até então. “Mudaram as regras do jogo sem transição. Usaram o argumento de que o recurso iria para a saúde, mas o valor destinado à cultura é uma rubrica específica, e o corte afetou diretamente o setor”, afirmou.

Essa mudança impactou profundamente a realização do carnaval, que passou a depender de formatos alternativos, parcerias com produtoras e, mais recentemente, da mobilização direta da Assecap. “Em 2020, a produtora que organizaria a festa entrou em falência, deixando pessoas sem reembolso. Só em 2023 conseguimos retomar com mais estrutura, graças à parceria com a Câmara Municipal e ao esforço coletivo das entidades”, disse.

Embora reconheça que o ideal seria alinhar o evento ao calendário nacional, Planella pondera que o carnaval fora de época tem suas vantagens. “Fora da data tradicional, conseguimos reduzir custos com a contratação de estruturas, pois o mercado está menos aquecido. No entanto, o distanciamento da data oficial também afasta parte do público e prejudica a tradição cultural”, afirmou.

Planejamento atual e melhorias na estrutura da passarela

Com o orçamento definido e os primeiros repasses realizados, a Assecap iniciou a fase de seleção e contratação dos prestadores de serviço. A sonorização ficará a cargo da empresa Vibração, que já atua em eventos de grande porte na região e foi elogiada pela qualidade apresentada na edição de 2024. “A sonorização foi um dos pontos altos no ano passado. Mantê-la é uma conquista”, destacou.

Em relação à estrutura física, a organização pretende corrigir fragilidades do ano anterior. “Estamos negociando com fornecedores para melhorar os camarotes, que no ano passado eram no chão. A ideia é elevá-los entre 80 centímetros e 1 metro. Também queremos ampliar o número de arquibancadas, já que em 2024 muita gente ficou de fora por falta de espaço, especialmente na noite das escolas de samba”, explicou.

A mobilização das entidades já começou, com ensaios e preparação dos figurinos e carros alegóricos. Segundo Planella, a expectativa é de público superior a 50 mil pessoas, número estimado pelas forças de segurança em 2024. A comercialização de ingressos e espaços para os desfiles deve ser iniciada em breve, com anúncios oficiais previstos para os próximos dias.

Ausência da General Telles e novos nomes na programação

Um dos pontos mais sensíveis da entrevista foi a confirmação da ausência da escola de samba General Telles, uma das mais tradicionais da cidade. “Lamentamos profundamente. A Telles é a escola com maior apelo popular em Pelotas. Entendemos que há questões internas, mas foi uma perda muito grande. Esperamos que a escola retorne em 2026”, declarou Planella.

Para garantir o concurso do grupo especial, a Assecap aprovou a entrada da escola de samba Império da Baixada, formada por integrantes da antiga Chavabanda. A nova composição contará com três escolas na avenida: Unidos do Fragata, Academia de Samba e Império da Baixada. A categoria mirim também crescerá, passando de três para quatro entidades. Outro destaque é o retorno da banda Família e do bloco burlesco Linguarudas da Várzea.

Programação oficial e novidades no desfile

A programação do Carnaval 2025 será distribuída em três dias de festa na passarela do samba:

- Sexta-feira (25/04): Concurso dos Burlescos, com destaque para a volta do bloco Linguarudas da Várzea.

- Sábado (26/04): Às 14h, desfile de abertura com a tradicional banda Empolgação. À noite, apresentação do bloco Embaixadores da Alegria, formado por entidades ligadas à inclusão de pessoas com deficiência, seguido pelo concurso das bandas carnavalescas.

- Domingo (27/04): Desfiles das escolas de samba mirins e do grupo especial, encerrando o evento.

A expectativa da organização é oferecer mais conforto ao público, com melhorias estruturais e diversidade de atrações. “Mesmo fora de época, é carnaval. Muita gente critica, mas depois está lá na passarela aproveitando. O importante é fazer o evento acontecer e manter viva essa tradição. E em 2026, com a prefeitura reassumindo a execução, esperamos voltar ao calendário nacional”, concluiu Planella.

Serviço

Carnaval de Passarela 2025 – Pelotas

Datas: 25, 26 e 27 de abril

Local: Passarela do Samba (Porto)

Atrações: Escolas de samba do grupo especial e mirins, bandas, blocos burlescos e desfile de abertura

Ingressos e espaços: Informações serão divulgadas em breve pela Assecap

*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.