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Castrar é Cuidar: SOS Animais trabalha para reduzir população de animais abandonados
A veterinária Lorena Coll, vice-presidente da ONG SOS Animais, concedeu entrevista ao programa Contraponto na manhã da última terça-feira (01). Ela destacou a importância das castrações gratuitas de animais na cidade e o papel da organização na redução da população de pets abandonados. A ONG realiza 350 castrações mensais, um número que ainda está abaixo do ideal, que seria de 500, segundo estimativas baseadas na população local.
Confira a entrevista.
Contraponto: Você poderia nos explicar como funcionam as castrações oferecidas pela ONG SOS Animais em parceria com a Prefeitura de Pelotas?
Lorena Coll: As castrações são oferecidas gratuitamente para pessoas que têm uma renda per capita inferior a R$ 500 ou aos cadastrados no CadÚnico e CRAS. Nós somos contratados pela prefeitura para realizar 350 castrações mensais, embora o ideal, com base na população local, seja cerca de 500 . As pessoas interessadas podem se cadastrar na Prefeitura, das 8h às 17h, levando um comprovante de residência e documentos que comprovem sua situação socioeconômica. Além disso, Pelotas tem muitas pessoas protetoras de animais que fazem o trabalho de monitorar animais que precisam de castração, fêmeas no cio, filhotes abandonados. Protetores de animais que têm mais de dez animais de estimação podem solicitar até cinco castrações gratuitas a cada dois meses.
Contraponto: Recentemente, muitos animais foram resgatados durante as enchentes. Como a ONG lidou com essa situação?
Lorena Coll: Durante as enchentes, eu e minha equipe estivemos em 11 abrigos , sendo cinco da prefeitura e seis particulares. Realizamos um censo dos animais resgatados e conseguimos castrar cerca de 28% dos animais abrigados. Todos os animais castrados recebem uma tatuagem na orelha direita, que indica que foram atendidos pela nossa ONG. Essa identificação é fundamental para que a população saiba quais animais já foram castrados.
Contraponto: A Prefeitura interrompeu as atividades de castração por três anos, de 2019 até 2022. Como isso afetou a população animal em Pelotas?
Lorena Coll: Essa pausa foi extremamente prejudicial. Durante esse período, a população de animais abandonados cresceu consideravelmente. Quando o programa foi interrompido, já tinhamso resultados positivos na diminuição da população animal. Agora estamos realizando novamente as castrações, mas precisamos alcançar um número maior para realmente impactar a situação. É importante lembrar que fêmeas caninas entram no cio a cada seis meses e felinas a cada três meses; portanto, um ano sem castrações pode resultar em centenas de novos animais.
Contraponto: Quais são os benefícios da castração para a saúde dos animais?
Lorena Coll: A castração traz diversos benefícios à saúde dos animais. Para fêmeas, realizar uma cirurgia antes do primeiro ano reduz significativamente o risco de tumores mamários e infecções uterinas, que podem ser fatais. Nos machos, previnem tumores testiculares e comportamentos agressivos. Além disso, a castração ajuda a evitar atropelamentos na via pública: cadelas no cio atraem machos e aumentam o risco de acidentes. A castração tem benefícios significativos: reduz o risco de câncer em fêmeas e infecções uterinas perigosas; nos machos, evita problemas testiculares e comportamentos indesejados. Além disso, ao controlar a reprodução descontrolada, diminuímos o número de abandonos e melhoramos as condições gerais dos animais de estimação nas ruas.
Contraponto: Como você vê o papel da comunidade e do poder público nesse contexto?
Lorena Coll: É fundamental que haja uma conscientização sobre a responsabilidade em relação aos animais. Cada animal tem um responsável; não existem animais de rua por acaso. O poder público deve implementar um cadastro municipal para facilitar o controle e prevenir maus-tratos. Nossa luta futura é por um ambulatório gratuito que atende às necessidades da população animal.
Contraponto: Você informa que as taxas das cirurgias ajudam na manutenção da ONG. Poderia explicar como isso funciona?
Lorena Coll: Embora tenhamos um contrato com a prefeitura para realizar as castrações gratuitas, também cobramos uma taxa mínima para serviços particulares. Essa taxa ajuda a cobrir nossos custos operacionais, como aluguel e salário dos funcionários. O valor arrecadado é essencial para manter nossas atividades e garantir que continuemos ajudando os animais.
Contraponto: A ONG já abrigou animais no passado? Como essa experiência influenciou o trabalho atual?
Lorena Coll: Sim, já vivemos uma chácara onde abrigamos mais de 200 animais no início dos anos 2000. No entanto, percebemos que essa abordagem não era sustentável; muitos abandonaram os animais lá sem arcar com os custos da ração ou cuidados necessários. A partir dessa experiência, começamos a estudar controle populacional e nos inspiramos em projetos internacionais bem-sucedidos, como o da cidade argentina de Almirante Brown, onde não há mais animais sem castrar nas ruas.
Contraponto: Qual é a necessidade urgente que você vê em relação aos cuidados com os animais em Pelotas?
Lorena Coll: Gostaria de enfatizar que todos podem contribuir para melhorar a situação dos animais em Pelotas. A conscientização sobre os cuidados necessários é essencial; cada animal tem um tutor responsável por ele. Precisamos trabalhar juntos para garantir o bem-estar deles e avançar na luta contra os maus-tratos. Além disso, precisamos implementar urgentemente um ambulatório gratuito para atender esses animais. Um animal microchipado é fácil de rastrear quanto à sua origem e isso ajudaria muito no controle da situação.
Contraponto: Qual é a situação atual da lei que prevê a substituição das charretes?
Lorena Coll: Sim, esse é um ponto crítico. Muitos cavalos ainda estão caindo nas ruas sem socorro adequado, especialmente nos finais de semana à noite, apesar de uma lei sancionada pela prefeitura não ter sido cumprida até hoje. Acredito na necessidade de uma substituição gradual desse sistema, pois não podemos simplesmente tirar o ganho das pessoas envolvidas nesse trabalho sem oferecer alternativas viáveis, como cursos profissionalizantes.
Contraponto: Estamos em período eleitoral. Como você vê a importância do voto em relação à proteção dos animais?
Lorena Coll: É fundamental que as pessoas cobrem dos candidatos mais proteção aos animais e leis mais efetivas ou que exijam que as leis existentes sejam cumpridas. O trabalho dos vereadores é fiscalizar e exigir cumprimento das leis; isso não está acontecendo aqui em Pelotas! Solicitamos pessoas comprometidas com políticas públicas externas para os direitos dos animais, como castrações gratuitas e hospitais públicos veterinários.
Contraponto: Que tipo de informação você considera importante divulgar para a população?
Lorena Coll: Muitas vezes as pessoas não sabem como cobrar seus representantes. Por exemplo, até 2004, todo animal recolhido da rua foi perdido 15 dias no canil antes de ser sacrificado — isso incluía cães saudáveis! Lutamos muito para mudar essa realidade e conseguimos acabar com o sacrifício em 2004. Essa foi uma grande vitória da SOS Animais! Agora precisamos continuar avançando nessa luta.
Você confere a entrevista completa em vídeo no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.
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