Defesa de Braga Netto ressalta lealdade do general a Bolsonaro
Com força e com vontade (por Leonardo Melgarejo)
A seca, todos sabemos, impede o desenvolvimento de plantas que sustentam animais, que alimentam pessoas que fazem a economia girar. Sem água, a civilização perde o rumo. Sem rumo, a civilização de desumaniza. Os pais de família se desesperam, e a juventude parte para o tudo ou nada.
E em nosso RS, onde a água está sumindo, a seca nada tem de novo. Aliás, ela tem sido tão previsível que é esperada. Ela de fato, ocorre na maior parte dos anos e com a destruição dos biomas, a cada verão se mostra mais intensa. Por isso, em 2022 a seca está na raiz de nossa maior crise. Basta viajar para enxergar o predomínio dos pastos secos e das lavouras que não produzirão grãos. Os animais de criação estão morrendo como os bichos sem dono.
E os agricultores sabem que com isso, a fome e os credores, que rondam, estão se aproximando a cada volta do relógio.
O que fazer? Buscar soluções coletivas! Acordar o governo, nem que seja a tapa?
Afinal, esperar o que, agora que 409 municípios já se declaram em estado de emergência, pela estiagem? As perdas econômicas, estimadas na faixa dos R$ 33 bilhões também não permitem dúvidas: este é um problema de todos os gaúchos.
A miséria que acompanha o rastro desta seca, que era esperada, está chegando. Ela vem impiedosa, e atingirá a todos. Talvez então resulte claro que uma seca previsível diante da imprevidência de um governo que só privatiza, acabou por colocar o RS de joelhos.
Agora, para que o RS se erga e volte a andar, são necessárias medidas urgentes, que - tudo indica - deverão ser cunhadas pela mesma sociedade que, desatenta, escolheu aqueles que a ignoram para gerenciar o governo de todos os gaúchos.
E parece que assim está sendo.
Pelo menos no meio rural, onde os efeitos da crise se fazem ver mais cedo, o povo se movimenta. Esta semana, cansados de esperar, cerca de 1.300 trabalhadores e trabalhadoras rurais vieram a Porto Alegre, dispostos a acordar o poder Executivo. Vieram como representantes das 257 mil famílias, afetadas pela estiagem, que se percebem a cada dia empurradas para mais perto dos limites do desespero.
Vieram conscientes de sua responsabilidade e por isso esperaram na frente dos portões fechados da Secretaria da Agricultura. Aguardaram no sol, por uma oportunidade para entregar reivindicações que devem ser entendidas como aconselhamento aos gestores do Estado.
Traziam um rol de demandas essenciais para a continuidade do papel que sempre desempenharam, em favor do país. Lembraram que, mantido o descaso, o desabastecimento é certo e se estenderá aos próximos anos, comprometendo a segurança alimentar e, portanto, a paz comunitária das regiões urbanas.
O dramático inclui a tristeza daqueles agricultores, diante do anúncio de medidas insuficientes que não resolvem o drama das dívidas nem permitem otimismo quanto às próximas safras. A promessa da construção de poços e açudes é interessante, mas desmoralizada pelo histórico de não efetividade. Recursivo no tempo, este tipo de anúncio, que quando se realiza, atende a poucos, só tem servido para desmobilizar as famílias, acelerando a falência de unidades produtivas e o enriquecimento de grupos envolvidos com o mercado de terras.
A demanda urgente é de outra natureza. Ela inclui a liberação de R$ 23 milhões do BNDES retidos pelo governo estadual e gestões do governador, junto aos Ministérios da República Federativa, para obtenção de créditos e auxílio emergenciais, anistia das dívidas e liberação de milho subsidiado da CONAB, entre outros elementos contidos naquela pauta.
Não há outro caminho além deste que os agricultores familiares começaram a trilhar esta semana. O apoio que receberam de organizações urbanas e o silêncio irresponsável da grande mídia corporativa pode estar sugerindo que, se esta primeira visita passar no vazio, num próximo momento e em nome da felicidade, talvez algumas orelhas devam ser puxadas, com força e com vontade, antes que seja tarde.
Confira também a coluna em áudio.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Leonardo Melgarejo- Engenheiro Agronômo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1976), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1990) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000). Foi representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio (2008-2014) e presidente da AGAPAN (2015-2017). Faz parte da coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos (2018/2020 e 2020-2022) e é colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, do Movimento Ciência Cidadã e da UCSNAL.
Edição: Katia Marko
0 comentários
Adicionar Comentário