Contraponto: Abaixo-assinado por segurança na UFPel ultrapassa 1.300 assinaturas
Contraponto: Abaixo-assinado por segurança na UFPel ultrapassa 1.300 assinaturas
A rotina universitária em Pelotas tem sido marcada pelo medo. A região do Porto, que concentra importantes unidades da UFPel como o Centro de Artes, a FAURB e o Instituto de Ciências Humanas (ICH), vive um cenário crescente de assaltos, sensação de insegurança e, mais recentemente, episódios que acendem o alerta para o preconceito racial. Estudantes relatam não apenas a ausência de medidas permanentes de proteção, mas também a necessidade de fortalecer ações educativas e reparadoras diante de casos de exposição indevida de jovens negros.
Em entrevista ao programa Contraponto, da RádioCom Pelotas, os estudantes Jordan Picchear e Sara Barros, integrantes do Centro Acadêmico do curso de Teatro da UFPel, relataram as dificuldades enfrentadas pela comunidade universitária e criticaram a fragilidade das políticas de segurança no entorno da universidade. Além disso, destacaram a mobilização dos estudantes diante do episódio envolvendo alunos do Colégio Estadual Félix da Cunha, que foram injustamente acusados de furtos nas proximidades do campus.
Insegurança no entorno da UFPel preocupa estudantes e moradores
A região do Porto tem registrado uma onda de assaltos que afeta tanto estudantes quanto moradores. Segundo Jordan, “parece que houve a prisão de um suspeito pela Polícia Civil, mas a insegurança continua”. A ausência de iluminação pública, o abandono de pontos de ônibus e a fragilidade na vigilância universitária estão entre as principais queixas.
O sentimento de vulnerabilidade se intensifica durante a noite e nos períodos de recesso, quando os prédios ficam mais vazios. Sara relatou que “recentemente saí de uma apresentação no campus por volta das 21h30 e o entorno estava completamente escuro e deserto”. A presença da segurança privada da universidade também foi alvo de críticas: segundo os entrevistados, ela é rara e superficial. “Eles só passam de moto e vão embora. Não têm estrutura nem para se proteger, quem dirá proteger os estudantes.”
Outro ponto citado foi a facilidade de acesso aos prédios da universidade. “Qualquer pessoa pode entrar na UFPel. Já teve caso de alguém se esconder no banheiro da faculdade depois de cometer um crime na rua”, contou Jordan. Os estudantes defendem medidas como controle de acesso, reforço de iluminação e instalação de câmeras de monitoramento.
Caso de acusação equivocada mobiliza protestos e reforça necessidade de ações educativas
Um dos episódios mais graves recentes foi a exposição injusta de dois irmãos negros, estudantes da Escola Estadual Félix da Cunha, apontados sem provas como autores de furtos ocorridos na região da UFPel. As imagens dos adolescentes circularam nas redes sociais, gerando forte comoção e repúdio por parte da comunidade escolar. Em resposta, alunos, professores e familiares realizaram um protesto em frente ao Instituto de Ciências Humanas (ICH) no dia 27 de março, exigindo respeito, retratação e responsabilização.
A Universidade Federal de Pelotas emitiu nota oficial esclarecendo que, desde o primeiro momento, a gestão buscou diálogo com a escola e as famílias, por meio da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade (PROAFE). A UFPel reforçou seu repúdio ao equívoco, reafirmando o compromisso com a justiça social, o respeito à diversidade e a responsabilidade na difusão de informações. Também anunciou a construção de uma ação conjunta de educação étnico-racial com o Colégio Félix da Cunha.
Para os estudantes entrevistados, episódios como esse revelam a urgência de fortalecer espaços de escuta, reparação e formação crítica dentro e fora da universidade. “Estamos do lado de quem sofreu essa violência. É nosso papel apoiar, dialogar e nos educar para não reproduzir esse tipo de situação”, afirmou Sara Barros.
Falta de representatividade estudantil dificulta mobilização coletiva
Outro ponto de preocupação dos entrevistados é a ausência de representação institucional por parte dos estudantes. Atualmente, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFPel está inativo, o que enfraquece a articulação política e institucional das demandas estudantis. “O processo eleitoral está travado há meses. Sem o DCE, ficamos de mãos atadas”, lamentou Jordan.
Nesse cenário, os Centros Acadêmicos têm assumido, dentro de suas possibilidades, a linha de frente nas mobilizações. O Centro Acadêmico do Teatro, por exemplo, tem se articulado diretamente com o colegiado do curso, mas reconhece a limitação frente a questões mais amplas da universidade. “A SEP [Secretaria de Extensão e Políticas Estudantis] também tem pouca autonomia. Precisamos de canais mais efetivos de escuta e ação”, disse Jordan.
A proposta atual dos estudantes é construir uma rede de comunicação entre CAs e DAs para agilizar a mobilização e encaminhamento de pautas urgentes. “Queremos dialogar diretamente com a Reitoria, com a Prefeitura e com a comunidade. Isso não é só um problema dos estudantes, é um problema da cidade”, reforçou Sara.
Abaixo-assinado por mais segurança já reúne mais de mil assinaturas
Como parte da mobilização, estudantes da Faurb lançaram um abaixo-assinado online exigindo medidas concretas de segurança. O documento já ultrapassou 1.300 assinaturas e tem como meta alcançar 1.500. A ideia é reunir a força dos diferentes cursos da região do Porto para pressionar as instâncias superiores.
A articulação ainda está em fase inicial, mas Jordan, que integra a equipe de comunicação do CA de Teatro, já planeja ações em conjunto com outros cursos. “Vamos estruturar um canal de diálogo entre os Centros Acadêmicos para fortalecer a ação coletiva”, afirmou.
Apesar da adesão expressiva, ainda não há uma definição clara sobre como o abaixo-assinado será encaminhado. A expectativa é que o documento seja entregue à Reitoria e à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFPel, como forma de dar visibilidade institucional às reivindicações dos estudantes.
Serviço
Centro Acadêmico do Curso de Teatro da UFPel
Contato: https://www.instagram.com/catufpel/
Link do abaixo-assinado: https://tinyurl.com/5dws97c2
Principais demandas: reforço na segurança, controle de acesso aos prédios, iluminação pública, combate ao preconceito e articulação estudantil
*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.
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