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Contraponto: Mão de obra prisional transforma vidas e ruas em Pelotas

Contraponto: Mão de obra prisional transforma vidas e ruas em Pelotas

A realidade de muitos apenados no regime semiaberto em Pelotas tem mudado por meio do trabalho. Em frentes urbanas de pavimentação, reformas e manutenção, eles têm não apenas recuperado ruas da cidade, mas também reconstruído suas próprias trajetórias. O programa de Mão de Obra Prisional (MOP), desenvolvido em parceria entre a Prefeitura de Pelotas e a Susepe, vem unindo reintegração social e eficiência nos serviços públicos.

Durante entrevista ao programa Contraponto, o secretário de Obras e Pavimentação, Rogério Salazar, e a diretora de Obras e coordenadora do programa, Aliceia Ceciliano, detalharam o funcionamento e os impactos do programa. Com três vezes mais participantes do que em janeiro, o MOP não só melhora a infraestrutura urbana como também oferece uma nova perspectiva a quem cumpre pena.

Oportunidade que resgata vidas

Segundo Salazar, o programa tem hoje 15 apenados trabalhando em diversas frentes da Secretaria de Obras, três vezes mais do que no início do ano. "É uma oportunidade rara para que essas pessoas reconstruam suas vidas. Eles prestam um serviço essencial à cidade e, ao mesmo tempo, recebem por isso e têm remição de pena", explica.

Aliceia destaca que o impacto vai além do operacional: "Eles ganham esperança. Vemos o brilho no olhar, a vontade de permanecer, de melhorar. Não querem perder essa chance". Para cada três dias de trabalho, um dia de pena é reduzido. Além disso, recebem 75% do salário mínimo.

A atuação dos trabalhadores inclui operações de tapa-buracos, recuperação de ruas com blocos Unistein e reformas internas em órgãos públicos. A experiência é tão positiva que outras secretarias, como Serviços Urbanos, Saúde e Assistência Social, também já adotaram o programa.

Capacitação e futuro

Embora a capacitação formal ainda esteja em fase de projeto, a experiência na prática já tem formado profissionais. A troca com servidores experientes garante aprendizado e qualificação. "Temos um apenado que é calceteiro, profissão quase artesanal. Ele é uma referência para os colegas", relata Salazar.

Parcerias com o IFSul e a UFPel estão sendo costuradas para ampliar as possibilidades de cursos profissionalizantes, voltados tanto para homens quanto para mulheres. Entre as áreas mencionadas estão confeitaria, manicure e pedreiro.

"Nosso objetivo é que saiam com uma profissão. Que não apenas cumpram uma pena, mas que reconstruam uma vida. Estamos trabalhando nisso com muito empenho", afirma Aliceia.

Integração que transforma

A convivência com os servidores da prefeitura é parte essencial do processo. As equipes trabalham de forma integrada, promovendo não apenas a eficiência, mas também a superação de preconceitos. "Fazemos questão de misturar os grupos, promover almoços coletivos, gerar pertencimento", destaca Salazar.

A diretora reforça que o olhar humano é prioridade: "Ali todos são iguais, todos têm deveres e merecem respeito. Trabalhamos com valores, com empatia e com escuta ativa". O retorno dos apenados é direto e emocionado: "Eles dizem que não querem sair do programa. Sentem-se parte, querem mudar de vida. Isso não tem preço", conta Aliceia.

Desafios e superações

O maior desafio é vencer o preconceito social. A presença da tornozeleira eletrônica, por exemplo, às vezes expõe os trabalhadores a olhares de desconfiança. Para mitigar isso, o trabalho dos coordenadores é fundamental: garantem apoio constante, escuta e segurança.

A seleção dos participantes é feita pela Susepe, que encaminha perfis com potencial de adaptação. "A relação com a Susepe é muito boa, com reuniões periódicas e troca constante de informações", explica a diretora.

Outro ponto fundamental é ajustar o número de apenados à demanda da secretaria. Condições climáticas e limitações operacionais exigem planejamento. "Queremos crescer, mas com responsabilidade, para não gerar ociosidade", diz Salazar.

Perspectivas futuras

A gestão planeja ampliar o programa de forma estruturada e estuda desenvolver campanhas educativas para sensibilizar a sociedade sobre o papel da reintegração. "Talvez algo conjunto entre prefeitura e Susepe possa mostrar para a população o quanto isso é importante", sugere o secretário.

"É um trabalho que muda a vida deles, mas também muda a forma como enxergamos a sociedade. E isso é evolução", completa Aliceia.


*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.


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