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Contraponto: Recicle promove oficinas que transformam fardas em autonomia e renda
A arte de costurar também pode ser a arte de recomeçar. Na Otroporto, mulheres de diferentes idades estão aprendendo a transformar uniformes descartados em bolsas e mochilas, enquanto resgatam sua autoestima e constroem novas possibilidades de renda. O projeto Recicle – Arte & Upcycling está com sua segunda turma em andamento e aposta na criatividade e na economia circular para costurar não apenas peças, mas vínculos, acolhimento e independência.
Em entrevista ao programa Contraponto da RádioCom, Mariana Heineck, coordenadora geral e oficineira do Recicle, detalhou a trajetória do projeto, os princípios que o orientam e os resultados transformadores alcançados até aqui.
Do descarte ao reaproveitamento criativo
O Recicle teve início dentro das Sagres Agenciamentos Marítimos, com a ideia de reaproveitar uniformes usados em boas condições. Alguns foram destinados a estudantes do CCMAR, outros viraram artesanato com o Grupo de Artesãs da Barra. Com o tempo, o projeto ganhou novos braços e Mariana passou a coordenar o eixo Beija-Flor, junto a um grupo de dez mulheres que transformam peças como jalecos e capas de chuva em bolsas de feira e mochilas.
Segundo Mariana, os uniformes doados pelas empresas parceiras são transformados em brindes que depois são adquiridos pelas próprias instituições, gerando renda para as artesãs. "Além de evitar o descarte, tem essa geração de renda para as famílias", destacou. Com o apoio da Lei Rouanet e de patrocinadores como Sagres, Rochamar e Ministério Público do Trabalho, o Recicle hoje capacita 60 pessoas ao longo do ano.
Economia circular e upcycling como prática e filosofia
A metodologia do projeto é baseada nos conceitos de economia circular e upcycling, que propõem o reaproveitamento de materiais com criatividade e valor agregado. "Uniformes têm vida útil limitada, mas são de boa qualidade. Evitamos que sejam incinerados ou acabem em aterros, transformando-os em novos produtos úteis", explicou Mariana. Cada peça é adaptada, descaracterizada e ganha nova função – tudo com foco na sustentabilidade e na redução do desperdício.
Durante as oficinas, que acontecem às sextas e sábados, os participantes aprendem a costurar mesmo sem experiência prévia. Não é necessário saber costurar para ingressar no curso – basta vontade e interesse. "Todos saem daqui com suas bolsas prontas, mesmo quem nunca tinha usado uma máquina antes", conta a coordenadora.
Acolhimento, autoestima e novas possibilidades
Mais do que ensinar técnicas de costura, o Recicle oferece um espaço de acolhimento e troca. Mariana relata que muitas alunas, especialmente mulheres acima de 60 anos, chegam ao curso sem grandes expectativas – e saem dele revigoradas. "Muitas estão aposentadas ou sem perspectiva, e aqui redescobrem a capacidade de produzir, de criar. Isso resgata a autoestima e fortalece os laços entre elas."
A experiência de pertencimento é reforçada pela escuta, pelo convívio e pelo ambiente de afeto construído durante as aulas. "O grupo conversa, troca ideias, se reúne. Isso faz muito bem para o psicológico. Algumas alunas já manifestaram o desejo de integrar permanentemente o grupo Recicle", compartilha Mariana. Três delas já estão em processo de capacitação para se juntar à equipe fixa.
Diversidade no perfil e ampliação da rede
Embora o foco do projeto esteja nas mulheres, especialmente em situação de vulnerabilidade ou com mais de 60 anos, as inscrições são abertas a qualquer pessoa interessada. A seleção prioriza quem vive nos arredores do Porto e em áreas periféricas de Pelotas, mas há participantes de várias regiões da cidade.
A iniciativa está prevista para se prolongar até o final de 2025, mas há planos de expansão, tanto pelo interesse crescente do público quanto pela demanda constante por reaproveitamento de materiais. A Rochamar, por exemplo, recolhe uniformes em nove portos do país para enviar ao Recicle. Já a Patran colabora com fardas que são transformadas em mochilas para patrulheiros ambientais mirins.
Serviço
Oficinas Recicle – Arte & Upcycling
Data e horário: Turmas aos sábados pela manhã e sextas à tarde, até dezembro
Local: Otoporto – R. Benjamin Constant, 701 - A
Descrição: Oficinas gratuitas de reaproveitamento têxtil com foco em sustentabilidade, renda e acolhimento
Gratuito
Inscrições pelo Instagram da Otroporto ou da Beija Flor Natural Arte
*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.
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