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Diálogos Amazônicos: marcha em Belém encerra ciclo de debates
Desde as primeiras horas desta terça-feira (8), na capital do Pará, Belém, milhares de pessoas representando entidades dos movimentos sindical e sociais, além de acadêmicos, pesquisadores, indígenas, representantes de governos e outros defensores da Amazônia e da soberania de seus povos, se reuniram para a Marcha dos Povos da Amazônia, uma caminhada que percorreu o trajeto do Bosque rodrigues Alves até o Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, local onde foi realizada a maior parte das atividades dos Diálogos Amazônicos.
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A caminhada encerrou oficialmente o ciclo de debates, evento que antecedeu a Cúpula da Amazônia, que reunirá até esta quarta-feira (9) os chefes de Estado dos países amazônicos para discutir iniciativas para o desenvolvimento sustentável na região.
Durante o percurso, a CUT Pará e o Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf) distribuíram 450 mudas de açaí, fruto símbolo do estado.
“Apesar de ter sido curta, a marcha teve cinco mil pessoas e foi muito simbólica para este final de evento. Da caminhada saiu a Comissão que entregará o documento final com os apontamentos dos debates aos líderes de Estados na Cúpula da Amazônia”, disse a ´Secretária Geral da CUT Pará, Vera Paoloni.
Confira a cobertura dos primeiros dias dos Diálogos Amazônicos: Ciclo de debates defende desenvolvimento sustentável e a vida na Amazônia
Quilombolas
Nos dois dias finais dos ‘Diálogos’, destacaram-se encontros importantes como um encontro com a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, nesta segunda-feira (7). Ao falar sobre questões que envolvem Quilombolas, ela afirmou que o governo tem como meta regularizar pelo menos 300 territórios quilombolas até o final de sua atual gestão, em dezembro de 2026.
“Acesso ao território é, desde sempre, no nosso país, algo muito grave. É uma luta. Precisamos retomar isto para pensar uma titulação a nível nacional. Se formos comparar, na última gestão (Bolsonaro), apenas um território quilombola foi titulado, por ordem judicial. Nestes seis meses de 2023, já titulamos cinco territórios quilombolas. E nosso objetivo é chegarmos a 300 até o final do nosso mandato”, disse a ministra.
Anielle citou o programa Aquilomba Brasil, lançado em março deste ano, como exemplo de ação que o governo federal pode tocar para atender a esses povos. “Quem sabe da Amazônia, de fato, é quem mora aqui, assim como quem sabe da favela é o favelado. E quando estamos aqui, esperando reconstruir junto com a sociedade civil as ações de titulação de terras, é um sinal de que estamos dialogando e dando passos concretos”, explicou.
Sistema financeiro
Também nesta segunda-feira, no auditório do Sindicato dos Bancários do Pará, foi realizado o debate “Sistema financeiro: impactos e responsabilidades com o meio ambiente, a Amazônia e o planeta”.Foram apresentados dados sobre os recursos investidos pelos bancos públicos no desenvolvimento regional da Amazônia. A Secretária-Geral da CUT Pará, bancária, Vera Paoloni, conta que os bancos levaram ao debate, dados sobre a atuação das instituições, no entanto a contribuição ficou aquém do que se esperava.
“O Banpará apresentou mais os seus produtos e sua capilaridade no estado. A Caixa apresentou algumas ações em habitação rural. Já o Banco do Brasil e o Basa, Banco da Amazônia, deixaram mais a desejar. O representante do BB, por exemplo, chegou a dizer que o banco tem o ‘agronegócio na veia’ e que a Agricultura Familiar é igual aos grandes produtores” disse dirigente, afirmando que a apresentação gerou críticas dos participantes.
“Nós, do movimento sindical, os trabalhadores rurais, os quilombolas, contestamos essas afirmações”, disse.
Vera conta ainda que a oportunidade do debate foi aproveitada por muitos trabalhadores para ‘reclamar’ sobre a negativação de seus nomes, a dificuldade em renegociar dívidas com os bancos, além do pouco acesso a crédito.
Segundo a sindicalista, o resultado do debate foi a conclusão de que o sistema financeiro tem grande responsabilidade sobre os principais problemas que a Amazônia e seus povos enfrenta, Como exemplo, ela cita o fato de que os bancos públicos, no ímpeto de obter lucros relativizam a sustentabilidade.
“A atuação do sistema financeiro tem grande impacto na Amazônia e em seus problemas, mas o setor é pouco responsabilizado. Os dados apresentados comprovam que a maior parte dos financiamentos são direcionados ao agronegócio, ao boi, à soja. O que precisamos é investimentos nos pequenos produtores, na população que vive e mantém a Amazônia viva”, diz vera.
A presidenta da CUT Pará, Euci Ana, complementou afirmando que “o sistema financeiro precisa efetivamente ter responsabilidade com a vida, com a Amazônia e com o meio ambiente”.
“Não é possível continuar esse financiamento medonho para soja, boi em larguíssima escala em detrimento do financiamento aos pequenos, às mulheres que são a maioria das chefas de família”, diz Euci.
O papel do sistema financeiro também foi discutido com foco na construção de sociobioeconomias da Amazônia, debate que teve a participação do secretário de Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio. Foi, na verdade, um aprofundamento do tema com a avalição técnica de acadêmicos e especialistas.
Ainda neste dia, cerca de 800 indígenas participaram da Assembleia dos Povos da Terra pela Amazônia, na Aldeia Cabana David Miguel. Durante o evento foi lida a carta a ser apresentada aos presidentes da Pan-Amazônia, durante a Cúpula da Amazônia.
Documento especial
A CUT, movimentos sociais, acadêmicos, representantes de governos e mais de 27 mil pessoas estiveram em Belém (PA) desde a última sexta-feira (4) para participar do evento Diálogos Amazônicos, o ciclo de debates que discutiu os diversos temas que envolvem a reconstrução de políticas públicas para a região.
Os debates contemplaram pautas como o a transição energética e o desenvolvimento sustentável, a proteção ao meio ambiente, o papel da agricultura familiar na região, a responsabilidade do sistema financeiro no meio ambiente, entre outros.
Os resultados, apontamentos, conclusões e reivindicações que surgiram do ciclo de debates fazem parte do documento a ser entregue aos líderes dos governos que estarão na Cúpula. Euci Ana, da CUT Pará, faz parte da comissão que fará a entrega do documento.
Leia a íntegra das resoluções dos Diálogos Amazônicos aqui
Fonte: CUT
Foto: VERA PAOLONI
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