Orgulho e Resistência: A 23ª Parada da Diversidade celebra Ancestralidade LGBTQIA+
É preciso seguir andando, sem medo (por Leonardo Melgarejo)
Uma semana longe do rádio e das redes, e perdi os acontecimentos que costumam servir de base para estas conversas.
Monólogos, na real. Mas baseados em opiniões que me chegam a respeito de eventos que suponho de interesse de alguma parcela da coletividade que acompanha o BdF/RS.
Enfim, a semana voou e perdi detalhes que permitiriam comentar as últimas do presidente paranoide e sua turma. Perdi o fio do momento a respeito do que eles estão tentando nos impor, de novo, em termos de ameaças ao presente e futuro de todos.
Ainda assim, minha semana de gaúcho alienado serviu para perceber algo interessante: não houve novidades!
Os manipuladores simplesmente repetiram fórmulas de distrações, rosnados e baixarias.
A grande luta continua sendo a mesma: estamos – como maioria – prisioneiros da ingenuidade e de desejos infantis, anseios por afagos e tutela.
Coisa triste. E já bem examinada no século XVI, por aquele jovem que, com menos de 18 anos de idade, escreveu o Discurso Sobre a Servidão Voluntária.
Precisamos rever aqueles ensinamentos sobre as prisões autoimpostas e a morte em vida a que nos submetemos.
A juventude, que possivelmente inventou todas as perguntas e todas as músicas, seguramente já não é mais a mesma. Vivemos uma época em que muitos jovens valorizam cantos que depreciam as mulheres, como se a humanidade pudesse manter seu voo, sem alguma de suas asas. O que esperar de crianças que crescem imitando fascistas que enriquecem como vitoriosos, boleiros, roqueiros, cancioneiros de raiz ou até mesmo bispos lobistas?
Que pensar de crianças que envelhecem valorizando artimanhas desrespeitosas e reprimindo todas as expressões de suas identidades interiores?
Neste rumo, a cada geração alimentando os monstros que nos controlam e tentando não ver em que isso nos transforma, nos apequenamos. Milhões parecem não enxergar que tanto o presidente que mente, como a Nancy que provoca, os pistoleiros institucionalizados e os juízes venais que os protegem e justificam, ameaçam a todos nós. Não está claro que em resposta ao oportunismo de alguns e à covardia de todos, normalizam-se os crimes?
Julian Assange vai morrer na cadeia, por falar a verdade, Guaidó, o fantoche, passa a ser dono do ouro venezuelano que aquele povo confiou a bancos ingleses, Marielle, Bruno, Dom, Marcelo e outros tantos são mortos a tiros no rastro local desta política que mantem impunes os anúncios e as realizações de apagamentos à bala.
Olhando isso se percebe que já não há novidades. Prosperam novas gerações daquele mesmo tipo de gente que matava indígenas à facão, que distribuía presentes infectados por malária e que justificava suas barbaridades com autoelogios, títulos, músicas e estátuas no centro das cidades.
O que se desenha entre irmãos, quando o modelo de gente de sucesso se assemelha cada vez mais a produtos que viram lixo no momento em que saem das fábricas? Quanto menor o tempo de uso, mais frágeis os compromissos, mais rápido o descarte. Novos amigos, novos celulares, novos brinquedos, novas armas, novas formas de matar, enganar e corromper, para manter o controle do Estado.
Com o novo modelo de espiritualidade, de família e de homens de bem que se armam para matar, crescem o medo e a indignidade, como o bolor nas frutas estragadas, como as unhas e os cabelos de pessoas que já morreram e não sabem. Gente perdida de si, que ameaça “atirar para matar”, caso venha a ser chamada à responder às mesmas leis a que todos, cordatamente, devemos obedecer.
O que pensar disso? Como pode existir um país com lideranças capazes de propor, não apenas 100 anos de sigilo para obscenidades, como a impunidade eterna e até mesmo o cargo de senadores vitalícios, para seus autores e cúmplices?
Por menos do que isso Calígula, o doido, aquele imperador romano que se intitulou deus e nomeou um cavalo senador da república, foi assassinado pelos próprios guardas. A solução encontrada pelos romanos poderosos de uma época em que o povo não opinava, para substituir um maluco desembestado por fantoche de mais fácil controle não cabe nos dias de hoje. Até porque não funcionou. A desmoralização dos acordos de fundo ético e moral continuou avançando, cresceram a consciência popular, identidades partilhadas e condutas de rebeldia. E aquele império, como todos os espaços de iniquidade, racismo, injustiça, acabou desaparecendo.
Felizmente a época é outra e embora mudanças civilizatórias aqui também se façam necessárias, hoje as correções podem se dar pelo voto, sem mortes, garantindo respeito e acesso (de todos) aos direitos e deveres comuns.
Os povos indígenas fazem por isso, em suas lutas pela existência, identidade, acesso a seus territórios e ao exercício de sua condição humana universal, como nos contou o cacique Luiz Katu, no Arte, Ciência e Ética num Brasil de Fato.
Rebeldia é uma palavra que impulsiona a busca de autonomia. Na música, alguns poderiam pensar que rebeldia é o rock, sem estética, sem métrica, sem rima. Mas ela vem de mais fundo e vai além. Segundo Rafa Cambará, o rock, como a rebeldia, é uma essência, não um padrão. Assim, está no canto dos pássaros, no latir dos cachorros, na alegria que cada época expressa através dos anseios de seu tempo.
O rock seria música jovem enquanto impulso que vive em si e se atualiza, desde o bater dos tambores até o punk, o funk e o rap, nas lutas por educação, por saúde, por demarcação de terras, por questões identitárias, ou em defesa da agroecologia, da negritude, dos direitos de ser livre, ser LGBTQIA+, ser vida que canta e dança na solidariedade respeitosa de todas as formas de amar.
Por isso nos dói amigo, a injustiça e a covardia, a hipocrisia.
Por isso, é preciso seguir andando e alimentando tradições, renovando as formas de amor em vida.
Os que já passaram, seguem em nós, seguem conosco.
As sementes atendem ao chamado do Sol e por elas, sem medo devemos erguer as mãos, seguir em frente.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko
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