“Queremos lembrar que saúde mental é um direito, não um privilégio”
Edição da Manhã: alerta para a importância da saúde mental no ambiente de trabalho
O programa Edição da Manhã desta segunda-feira (3) recebeu Mauro Salles, diretor de saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, para discutir a campanha Janeiro Branco. O movimento, realizado ao longo do mês de janeiro, visa conscientizar sobre a importância da saúde mental e emocional, com destaque para o adoecimento de trabalhadores devido às condições laborais.
Adoecimento mental e a relação com o trabalho
Mauro Salles destacou que, na última década, houve um aumento expressivo dos casos de adoecimento mental relacionado ao trabalho, causando esgotamento, depressão e suicídio. Ele atribui esse cenário à crescente pressão por produtividade, que muitas empresas impõem aos trabalhadores. "O esgotamento profissional, conhecido como Burnout, foi reconhecido pela OMS como um fenômeno ocupacional. No Brasil, essa condição já é vista como uma doença relacionada ao trabalho", afirmou.
Ele explicou que diversos setores, incluindo o setor financeiro que utiliza metas abusivas e pressão psicológica como ferramentas gerenciais. "Nos bancos, por exemplo, há condenações judiciais por assédio moral devido à cobrança excessiva de metas. No entanto, essas práticas continuam sendo aplicadas", disse.
Impactos no bem-estar dos trabalhadores
Segundo pesquisas realizadas pela Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, 67% dos trabalhadores entrevistados relataram preocupação constante com o trabalho, 60% sentem cansaço e fadiga frequente, 53% se dizem desmotivados e 47% sofrem crises de pânico. Outro dado alarmante é que cerca de 40% dos bancários utilizam medicamentos controlados para lidar com a pressão laboral. "O ansiolítico e o antidepressivo viraram ferramentas de trabalho para muitas pessoas", alertou Salles.
Medidas para combater o adoecimento no trabalho
Para o dirigente sindical, a solução passa pela fiscalização efetiva das empresas e pela conscientização dos trabalhadores. Ele defendeu uma maior integração entre órgãos públicos, como Ministério do Trabalho, Previdência Social e Sistema de Saúde, para garantir o cumprimento das normas trabalhistas. "Não adianta apenas realizar campanhas como o Janeiro Branco se não houver medidas concretas para combater o adoecimento laboral", pontuou.
Salles também ressaltou a importância da mobilização sindical e das denúncias por parte dos trabalhadores. "O assédio moral e as metas abusivas não são normais nem legais. Os trabalhadores devem denunciar essas práticas para que possamos pressionar as empresas e as instituições responsáveis pela fiscalização", enfatizou.
O papel do Janeiro Branco
Durante o mês de janeiro, sindicatos e entidades - como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) - promoveram ações de conscientização, realizando reuniões, distribuição de materiais informativos e debates sobre a saúde mental. "O objetivo é despertar nos trabalhadores a consciência de que o sofrimento emocional no trabalho não é algo natural e precisa ser combatido", afirmou Salles.
Para ele, a sociedade precisa reconhecer que a relação entre condições de trabalho e sofrimento mental é um problema estrutural. "O trabalho deve ser fonte de realização e não de sofrimento. Precisamos exigir condições dignas e seguras para todos os trabalhadores", concluiu.
Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.
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