A entrevista com a secretária municipal de Saúde de Pelotas, Angela Moreira Vitória, realizada no programa Edição da Manhã desta segunda-feira, 14, trouxe um panorama dos avanços e desafios enfrentados nos primeiros 100 dias da gestão do prefeito Fernando Marroni. Ao lado da coordenadora do setor de Regulação de Consultas Especializadas (Gercon), Ingrid Mirian Oliveira, Angela destacou as diretrizes para reorganizar a rede e reduzir a fila de espera por consultas, exames e cirurgias.

Avanços nos primeiros cem dias

A secretária Angela iniciou a entrevista apresentando o contexto financeiro delicado herdado da gestão anterior, com mais de R$18 milhões em restos a pagar apenas na área da saúde. Mesmo diante das dificuldades, ela destacou que as diretrizes da nova gestão são pautadas pelo equilíbrio entre necessidades em saúde, serviços disponíveis e tecnologias acessíveis.

Um dos principais focos tem sido a reorganização da demanda por média complexidade, que inclui exames e consultas com especialistas. Angela explicou que o trabalho conjunto com hospitais visa ampliar a oferta de atendimentos, citando como exemplo a cardiologia. Segundo ela, Pelotas deveria ofertar mais de 2 mil consultas cardiológicas mensais, mas atualmente realiza menos de 400.

Reorganização da fila e uso racional dos recursos

A coordenadora do Gercon, Ingrid Oliveira, detalhou que foram identificadas filas com cerca de 56 mil pessoas aguardando consultas e 65 mil exames. Parte desse desafio está relacionada ao atendimento de toda a macrorregião sul, que abrange mais de um milhão de habitantes.

Ingrid destacou que a equipe tem atuado para entender a composição dessas filas e redistribuir a demanda de forma mais inteligente. Como exemplo, citou casos de pacientes que aguardavam por anos para retirar traqueostomias. A solução foi transferir esses pacientes para especialidades com menor demanda, como cirurgia de cabeça e pescoço, otimizando o uso das vagas existentes.

Integração com a atenção primária

Para revisar os encaminhamentos e evitar desperdício de recursos, a Secretaria de Saúde tem atuado em parceria com a atenção primária. As UBSs (Unidades Básicas de Saúde) têm sido orientadas a revisar pedidos antigos e avaliar se os pacientes ainda necessitam dos procedimentos.

Com o uso do sistema GERCON, os profissionais de saúde conseguem acompanhar em tempo real o status das solicitações, interagir com a regulação e atualizar os dados dos pacientes. O sistema também está acessível à população, que pode consultar diretamente suas solicitações.

Negociação com hospitais e ampliação de serviços

Angela explicou que os contratos com os hospitais foram prorrogados para permitir uma avaliação criteriosa dos serviços prestados e dos valores repassados. A gestora relatou que vários procedimentos não estavam sendo realizados conforme o previsto, enquanto outros poderiam ser ampliados.

Uma divergência atual é quanto ao uso de recursos adicionais repassados pelo Ministério da Saúde em 2023. Enquanto os hospitais alegam que os valores destinavam-se a cobrir déficits, a prefeitura entende que esses recursos estão vinculados à ampliação da produção. As negociações continuam em curso.

Policlínica e futuro do atendimento especializado

A secretária afirmou que um dos principais projetos em andamento é a construção de uma policlínica municipal, com foco na média complexidade. Atualmente, boa parte dos serviços de consulta e exame são contratados de prestadores privados. A iniciativa visa fortalecer o atendimento público e aderir aos programas de Oferta de Cuidado Integrado (OCI), ampliando a resolutividade do SUS em Pelotas.

Angela também destacou a importância de um debate mais profundo sobre a construção do SUS, criticando abordagens individuais que desconsideram o contexto estruturante da rede pública de saúde. Segundo ela, é necessário planejar e investir de forma coletiva para superar gargalos históricos.

Dengue e ações de prevenção

Ao final da entrevista, Angela comentou sobre o controle da dengue no município. Apesar do aumento recente de casos, Pelotas apresentou redução significativa em relação ao ano anterior. São 13 casos confirmados. Em 2023 foram 600 casos registrados, enquanto em março de 2024 foram 200. A secretária atribuiu esse resultado à articulação da Vigilância em Saúde com os Serviços Urbanos e o Sanep, que realizaram mutirões de limpeza pela cidade.

Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.