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Edição da Manhã: inteligência artificial na psicoterapia exige cautela e supervisão
A presença crescente da inteligência artificial (IA) em áreas sensíveis, como a psicoterapia, levanta discussões importantes sobre seus limites e potenciais. Em um cenário onde o acesso à saúde mental ainda é restrito para muitas pessoas, a utilização de chatbots e ferramentas digitais surge como uma alternativa promissora — mas também carrega armadilhas éticas, técnicas e emocionais.
Durante entrevista ao programa Edição da Manhã, o psicólogo, professor e pesquisador da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Luciano de Mattos, analisou os impactos do uso da IA em contextos terapêuticos. A conversa abordou desde a eficácia desses modelos até os riscos de uso não supervisionado, passando por questões de confiança, privacidade e possíveis efeitos colaterais.
Vantagens e limites da IA em terapias
Luciano destacou que a IA tem mostrado bons resultados em ensaios clínicos controlados, com eficácia semelhante à de profissionais humanos, especialmente no tratamento de sintomas leves. “Os resultados de efetividade são muito parecidos”, afirmou. Entre os principais benefícios, estão a disponibilidade contínua, o alcance ampliado e a capacidade de replicar intervenções em larga escala.
No entanto, o pesquisador pondera que os modelos ainda têm dificuldades para lidar com a complexidade dos transtornos mentais e contextos específicos dos pacientes. “A IA pode não contemplar problemas fora do que foi treinada para reconhecer”, explicou. Essa limitação pode ser perigosa, principalmente em situações raras ou emergenciais.
A importância da supervisão humana
Um ponto central da entrevista foi a necessidade de supervisão profissional no uso dessas ferramentas. Luciano alerta que o uso não supervisionado de IA em psicoterapia pode agravar quadros clínicos, já que a máquina não possui empatia ou julgamento ético. “Existe uma estimativa de que até 4% das pessoas piorem durante processos terapêuticos — com IA, isso também ocorre, e sem supervisão, é ainda mais difícil de identificar”, advertiu.
O psicólogo esclareceu que os melhores resultados são obtidos quando há acompanhamento de um profissional de saúde mental, capaz de guiar o paciente no uso da tecnologia e intervir quando necessário.
Relação terapêutica: o que a máquina não entrega
Apesar de avanços na simulação de conversas empáticas, a IA ainda não é capaz de construir vínculos terapêuticos reais. “Empatia, aliança terapêutica e motivação são fatores humanos que explicam quase 50% do sucesso terapêutico”, afirmou Luciano Mattos. Mesmo que o paciente crie algum tipo de afeto pela máquina, a reciprocidade — essencial no processo — não existe.
Essa ausência compromete especialmente a manutenção dos resultados ao longo do tempo. “O indivíduo pode até se sentir melhor no momento, mas a consolidação da aprendizagem é mais frágil quando feita por uma IA”, concluiu.
Risco de dependência e isolamento
Outro risco discutido foi o da dependência tecnológica. Para pessoas com dificuldades de socialização, como aquelas com fobia social, o uso de IA pode reforçar o isolamento. O psicólogo ponderou que, embora a ferramenta possa ser útil para treinos sociais em etapas iniciais, ela deve ser parte de um plano maior de tratamento, com foco na reintegração social.
“Se usada de forma independente, a IA pode ser mal interpretada como solução definitiva, quando na verdade deve ser um degrau no processo de superação”, pontuou o professor.
Privacidade e controle de dados: um dilema ainda sem solução
A exposição de informações pessoais em interações com IA também levanta preocupações quanto à privacidade e proteção de dados. Segundo Luciano, não há transparência sobre como as empresas utilizam essas informações, e o interesse econômico pode sobrepor-se ao técnico. “A IA entende como funciona o indivíduo, e isso pode ser perigoso se usado de forma indevida”, alertou.
Impactos no mercado de trabalho e a questão ética
Por fim, o pesquisador comentou a possibilidade de substituição de profissionais humanos. Ele acredita que, apesar de uma provável redução na demanda, a psicologia continuará necessária, principalmente por exigir supervisão humana. “A máquina existe, e ignorar isso seria negar a realidade. Mas ela deve ser usada como complemento, não substituição”, enfatizou.
Luciano ainda ressaltou que a IA pode ajudar a personalizar intervenções para contextos culturais pouco contemplados pela ciência tradicional, principalmente em regiões como a América Latina.
Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.
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