Claudionei Ferreira: “Passei pelo manicômio. Sei como é. Por isso luto”
Edição da Manhã: nova coordenação do Condim assume com foco em ampliar diálogo com comunidades e combater violências
A eleição da nova coordenação do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Condim) de Pelotas, realizada em 13 de maio, marca um momento simbólico e estratégico para a luta das mulheres na cidade. A data, significativa para o movimento negro e feminista, fortalece o compromisso com o enfrentamento das desigualdades de gênero e o acolhimento de vozes historicamente silenciadas. A nova gestão chega com representatividade ampla e aposta em ações mais próximas das comunidades.
Em entrevista ao Edição da Manhã, Francisca Jesus, recém-eleita coordenadora do Condim, falou sobre os desafios do biênio 2025–2027 e destacou o papel essencial do Conselho na escuta das mulheres e na promoção de políticas públicas efetivas. Representante do GAMP (Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas), Francisca enfatizou a necessidade de continuidade das ações e aprofundamento de pautas estruturantes, como o combate à violência de gênero.
Representatividade e continuidade como princípios de gestão
A nova composição do Condim foi formada com mulheres oriundas de diferentes segmentos sociais, culturais e comunitários. Além de Francisca na coordenação, a equipe conta com Tidy Peduzzi (Cpers) como vice-coordenadora, Kitanji Juliana Goulart Nogueira (Liga dos Blocos de Rua e Cordões Carnavalescos) como 1ª secretária e Tania Regina de Oliveira (Fraget) como 2ª secretária.
Francisca destacou que a eleição ocorreu em um momento especial de simbolismo político e social. “Assumimos essa responsabilidade carregando o legado de instituições que há décadas lutam pelos direitos das mulheres. O nosso compromisso é seguir dialogando com as mulheres das periferias e fortalecendo essa escuta ativa nos territórios”, afirmou.
Segundo ela, o trabalho da gestão anterior foi combativo e desafiador, mas deixou bases sólidas para serem aprofundadas. “O conselho precisa estar na rua, perto das comunidades. Não faz sentido atuar no enfrentamento às violências de forma distante ou apenas institucionalizada.”
Desafios: violência de gênero e políticas públicas efetivas
Entre as pautas prioritárias da nova gestão está a ampliação das ações de enfrentamento à violência contra a mulher. Francisca enfatizou a importância da reestruturação dos serviços, especialmente da Delegacia da Mulher. “A luta pelo funcionamento 24 horas da delegacia continua sendo central. Precisamos garantir que toda mulher tenha acesso a acolhimento qualificado em qualquer horário”, pontuou.
Ela também destacou que os dados já levantados sobre a violência devem ser utilizados como base para construir políticas mais eficazes. “Agora é hora de nos debruçarmos sobre os números e propor ações integradas, junto a outras secretarias, para que essas políticas cheguem realmente nas mulheres dos bairros.”
A capacitação contínua das forças de segurança também foi mencionada como essencial. Francisca mencionou a atuação da Patrulha Maria da Penha como uma iniciativa que deve ser fortalecida, além da necessidade de protocolos de encaminhamento eficientes em toda a rede de acolhimento.
Parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres
Esta é a primeira coordenação eleita após a criação da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres. Francisca adiantou que ainda não houve uma reunião oficial com a secretária Marielda Medeiros, mas que a parceria será estratégica. “O Conselho deve acompanhar, somar e também propor ações. Não é apenas representar, mas avançar nas lutas históricas que estamos construindo há anos.”
A expectativa é que haja articulação contínua entre o Condim e a Secretaria, com ações conjuntas e reuniões mensais para alinhar propostas e avaliar resultados.
Memória e denúncia: exposição sobre feminicídios impacta e mobiliza
Durante a entrevista, Francisca também comentou sobre a exposição fotográfica “Arrancadas de Nós – o feminicídio e as histórias que precisam ser contadas”, em cartaz desde 12 de maio. A mostra reúne imagens e relatos de mulheres vítimas de feminicídio em Pelotas, e busca sensibilizar a população sobre a brutalidade desses crimes.
“É muito impactante ver os rostos, as histórias, os sonhos dessas mulheres. Algumas nós acompanhamos de perto, estivemos com as famílias na luta por justiça. Essa exposição precisa ser itinerante, para que mais pessoas conheçam essas histórias e compreendam a gravidade do feminicídio”, declarou.
Francisca ressaltou a importância de perceber os sinais da violência desde o início. “O grito é o primeiro sinal. Ele geralmente termina na agressão e, no limite, na morte. A violência não começa no tapa, começa no controle, na vigilância disfarçada de cuidado.”
Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.
0 comentários
Adicionar Comentário