A recente denúncia feita pelo vereador César Brisolara (PSB) sobre supostas ações repressivas da Guarda Municipal e da Secretaria de Assistência Social (SAS) de Pelotas em abordagens a pessoas em situação de rua foi o ponto de partida para uma entrevista esclarecedora no Edição da Manhã. Segundo a diretora da secretaria, Andréia de Souza, não há qualquer atuação coercitiva nas ações de abordagem, que são realizadas por equipes técnicas da assistência social.

Durante o programa da RádioCom, Andréia detalhou o funcionamento dessas ações e desmentiu a participação ativa da Guarda Municipal no processo. “Quem executa a abordagem são os assistentes sociais e educadores sociais. A Guarda está apenas para garantir a segurança da equipe, principalmente por ser à noite”, afirmou.

Como funciona a abordagem social

A diretora da Secretaria de Assistência Social explicou que a abordagem é um serviço previsto na política de assistência, com foco na escuta, no vínculo e na oferta de serviços. “Nos apresentamos, explicamos quem somos e convidamos essas pessoas a acessarem nossos serviços, como a casa de passagem ou o Centro Pop. Nunca forçamos nada”, destacou Andréia.

A atuação noturna, que ocorre uma ou duas vezes por semana, visa alcançar pessoas que não são localizadas durante o dia. O trabalho envolve também Organizações da Sociedade Civil (OSCs), como a Gesto e a Vale a Vida, que realizam abordagens diurnas. Segundo a diretora, as equipes estão preparadas para lidar com diferentes situações e buscam sempre o convencimento e o acolhimento.

Ela também fez questão de frisar: “Não é abordagem policial, é abordagem social. E isso precisa ficar muito claro para toda a população”.

Regiões atendidas e principais desafios

Atualmente, cerca de 38 pontos da cidade foram mapeados com presença constante de pessoas em situação de rua, abrangendo bairros como Centro, Fragata, Laranjal e proximidades da rodoviária. Andréia relatou que as equipes visitam esses locais com frequência e que, apesar dos desafios, a receptividade costuma ser positiva.

“Temos um caso em que conseguimos convencer um senhor do Laranjal a acessar os serviços. É um trabalho de paciência, vínculo e persistência”, contou. Em quatro anos de atuação direta em abordagens, Andréia garante que nunca houve necessidade de intervenção por parte da Guarda Municipal - mesmo em situações mais delicadas.

Encaminhamentos e números do serviço

Nos primeiros três meses do ano, foram registradas mais de 300 abordagens sociais no município, envolvendo cerca de 160 pessoas. “Muitas vezes a mesma pessoa é abordada mais de uma vez. Isso mostra nosso esforço em construir vínculos e oferecer alternativas”, explicou Andréia.

Casos de dependência química, por exemplo, são encaminhados ao CAPS AD, e, quando necessário, a comunidades terapêuticas. Segundo ela, atualmente há uma média diária de 80 pessoas acolhidas na casa de passagem e mais de 100 atendimentos no Centro Pop. “O objetivo é sempre encaminhar para serviços de saúde, moradia, e garantir que essa pessoa não fique desassistida”, disse.

O trabalho também conta com o apoio do Consultório na Rua, uma equipe com médico, enfermeiro e assistente social que realiza atendimentos em diferentes pontos da cidade. “A abordagem não é só para ofertar vaga, mas para entender o que essa pessoa precisa, seja um curativo, seja tratamento para saúde mental, seja apoio social”, concluiu.

Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.