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Epidemia das apostas consome bilhões
Cerca de 24 milhões de pessoas participaram de jogos de azar e apostas em agosto, realizando pelo menos uma transferência por Pix para empresas especializada em jogos on line, as chamadas bets. Isso representa em valores totais o equivalente a R$ 20,8 bilhões. Os dados do Banco Central apontam ainda que as apostas consumiram cerca R$ 3 bilhões dos valores pagos pelo Bolsa Família – programa do Governo Federal de benefício social às famílias mais pobres; e que 1,3 milhão de pessoas se tornaram inadimplentes por causa dos vícios em apostas. Os números reforçam o alerta para um problema que já é considerado como epidemia de saúde publica no Brasil.
Para o psicólogo Luciano de Mattos Souza, professor e pesquisador da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), o vício em apostas retrata outros problemas que adoecem atualmente a população brasileira. “Existe sim uma dificuldade emocional na população geral, mas é muito importante compreender que não é por causa dos jogos. O jogo é a atividade da vez. É atividade que está sendo escolhida pelas pessoas como saída para a tentativa de resolver algum problema, mas poderia ser qualquer outro tipo de atividade comportamental que estivesse ali disponível. A base do problema está no contexto sócioeconômico da população que é deficitário, além de uma carga de estresse muito forte na população em geral por insatisfação com a vida”, avaliou em entrevista ao programa Edição da Manhã da RadioCom nesta quarta-feira (25\9).
RECOMPENSA
O vício em aposta é muito antigo na sociedade. O que mudou com os jogos eletrônicos é a facilidade para as pessoas apostarem – sem a necessidade de sair de casa para realizar o seu jogo. Basta acessar o celular que se encontra na palma da mão. “O acesso fácil permite o aumento de vezes que o apostador se engaja no mesmo tipo de situação e vai reaprendendo que aquilo vai ser “vantajoso”. Isso porque a experiência química interna gera uma sensação de recompensa positiva. E muitas vezes são recompensas abstratas e fantasiosas, como ter conseguido mais pontos da plataforma para seguir jogando por exemplo. Ou porque ganhou status de ter mais estrelas. Isso não tem recompensa concreta nenhuma para a pessoa”, comentou Luciano, que concorda que o sistema de recompensa no vício de apostas se assemelha com o que ocorre na dependência química.
O primeiro desafio para enfrentar o problema é conseguir distinguir a diferença entre a aposta recreativa e a compulsiva. Luciano Souza apresentou algumas dicas: “Tem alguns perfis individuais do sujeito, que podem indicar que a pessoa se sinta mais recompensada por essa ilusão das apostas. Em primeiro lugar é a preocupação permanente com os jogos; ou quando a pessoas tenta controlar sua participação em jogos, mas não consegue; ou a necessidade de aumentar o valor das apostas; ou assumir riscos, que normalmente não assumiria, colocando muitas vezes bens em garantia de dívidas geradas em jogos; ou a efervescência emocional quando está jogando ou impedido de jogar”.
O tratamento para a recuperação do dependente é orientado a partir de uma análise individual do paciente. “É muito importante fazer uma análise para um cenário maior. O vício em apostas, como a adicção em drogas, são transtornos que andam juntos com outros quadros como depressão, ansiedade, características de temperamento do indivíduo que facilite a iniciação e a continuidade da ação em jogar. O tratamento será muito particularmente desenhado para cada sujeito, mas geralmente ocorre com a combinação entre o farmacológico e a psicoterapia voltada para grandes grupos”, completou o psicólogo.
Fonte: RádioCom / Caldenei Gomes
Imagem: fotospublicas.com
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