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Família Acolhedora: Vínculos afetivos seguem mesmo após o acolhimento
“Pai, deixa eu continuar tendo contato com a tia?” — a pergunta emocionada de uma criança acolhida temporariamente em Pelotas revela o poder transformador do Serviço Família Acolhedora. O programa da Secretaria de Assistência Social oferece mais do que abrigo: oferece afeto, segurança e vínculos que, mesmo após o fim do acolhimento, continuam vivos na memória e no coração de quem acolhe e de quem é acolhido.
Durante entrevista no programa Contraponto, da RádioCom Pelotas, a secretária de Assistência Social, Raquel Nebel, e a coordenadora do serviço, Mariângela Sposito, explicaram o funcionamento do Família Acolhedora, a urgência por novas famílias voluntárias e os impactos reais dessa vivência. Hoje, nenhuma nova família está apta a receber crianças em situação de acolhimento, e mais de 50 crianças permanecem em abrigos institucionais, privadas da experiência de um lar.
Cuidado temporário, impacto permanente
O Serviço Família Acolhedora é uma alternativa ao acolhimento institucional, voltada a crianças e adolescentes afastados de suas famílias por medida judicial. O objetivo é garantir que vivam em um ambiente familiar enquanto sua situação jurídica é definida. Ao contrário da adoção, o acolhimento é temporário e não rompe vínculos com a família de origem ou extensa (avós ou tios, por exemplo).
“O acolhimento termina, mas os vínculos continuam”, destaca Mariângela Sposito. A permanência da afetividade após o fim do acolhimento é um diferencial do programa. Crianças continuam se comunicando com suas famílias acolhedoras, e muitos mantêm contato, trocam mensagens e até visitas. Há casos em que acolhedores tornam-se madrinhas e padrinhos das crianças após a saída delas do lar temporário.
Além de emocionalmente transformador, o acolhimento familiar é comprovadamente mais benéfico ao desenvolvimento das crianças do que o acolhimento institucional. “Já recebemos crianças que nunca tinham tomado banho, nunca foram à praia, nem sabiam comer com talheres”, relata Mariângela. Com o apoio e a rotina familiar, essas crianças passam a experimentar cuidados que antes desconheciam.
Realidade em Pelotas: muitas crianças, poucas famílias
O cenário atual em Pelotas é urgente: nenhuma nova família está habilitada para acolhimento, e 53 crianças vivem em abrigos. Embora 13 famílias estejam ativas no programa, apenas 19 crianças estão acolhidas atualmente. A meta da Secretaria de Assistência Social é ampliar essa rede e reduzir o número de crianças institucionalizadas.
A maior parte da população ainda não conhece bem o programa. Muitos acreditam, equivocadamente, que ele pode ser uma forma de "burlar" a fila da adoção — o que é terminantemente proibido. “Para ser acolhedor, é preciso não estar inscrito no cadastro de adoção e não ter intenção de adotar”, reforça Mariângela. Outros se interessam pela ajuda de custo — atualmente, um salário mínimo por criança —, mas desistem ao entender a responsabilidade envolvida.
A equipe técnica do Família Acolhedora realiza entrevistas, visitas domiciliares, análise documental e capacitação antes de habilitar uma família. Somente após esse processo, e com homologação do Judiciário, a guarda provisória é concedida. “Falamos primeiro sobre todas as dificuldades. Quem insiste mesmo assim, está preparado para acolher de verdade”, diz Mariângela.
“A gente nasce rompendo vínculos”: como lidar com o apego
Um dos principais receios de quem se interessa pelo programa é o apego. “É normal se apegar, e é bom que isso aconteça”, comenta a coordenadora. O vínculo é essencial para o acolhimento ter sentido e deve ser encarado como parte do processo. “Carinho e amor nunca são demais”, completa.
Mesmo depois do acolhimento, muitas famílias mantêm laços com os acolhidos. Há casos em que os adotantes ou familiares de origem convidam os acolhedores a seguirem próximos. “A maioria das famílias que passaram pela experiência volta a procurar outra criança para acolher. Isso mostra o quanto o processo é significativo também para quem acolhe”, destaca Mariângela.
Raquel Nebel complementa: “Há coisas que têm preço, mas não têm valor. Acolher é oferecer proteção real, em um ambiente familiar.” O programa também acompanha a família por até seis meses após o desacolhimento e oferece suporte durante toda a jornada — inclusive com apoio psicológico, que será reforçado com a contratação de nova profissional.
Como participar do programa
Famílias interessadas podem se inscrever entrando em contato pelo WhatsApp (53) 3199-0331 ou pelo e-mail familiaacolhedorapel@outlook.com. O processo de entrada no programa inclui entrevistas, capacitação, análise documental e visita domiciliar. Os candidatos devem residir em Pelotas, ter mais de 21 anos e não possuir antecedentes criminais.
Durante o processo, as famílias podem indicar o perfil das crianças que desejam acolher — faixa etária, gênero, existência de deficiência ou não. “Temos famílias que acolhem apenas bebês, outras que preferem adolescentes, e duas famílias hoje acolhem crianças com deficiência”, explicou Mariângela.
O apoio técnico é contínuo: além das visitas semanais, a equipe mantém contato diário por WhatsApp para orientar, acolher dúvidas e acompanhar o bem-estar das crianças e das famílias. Mesmo após o término do acolhimento, o suporte continua, reforçando o compromisso com o vínculo emocional e a estabilidade das relações criadas.
Evento especial na Fenadoce reforça convite ao acolhimento
Para aproximar ainda mais a população pelotense do programa, o Serviço Família Acolhedora promove, nesta terça-feira (29), às 19h, um encontro especial no estande da Prefeitura de Pelotas na Fenadoce. A ação é parte da campanha de mobilização para ampliar o número de famílias voluntárias no município.
O evento contará com depoimentos emocionantes de famílias que já participaram do programa, relatando o impacto do acolhimento em suas vidas, além do relato de uma adolescente acolhida atualmente, que compartilhará como essa experiência mudou seu cotidiano e suas perspectivas de futuro. A cerimônia será breve, sensível e informativa — uma oportunidade para conhecer, de perto, o poder transformador dessa rede de cuidado.
A presença é aberta ao público e gratuita. Quem tiver interesse em acolher ou apenas quiser saber mais sobre o funcionamento do serviço poderá conversar com a equipe técnica da Secretaria de Assistência Social, tirar dúvidas e receber orientações sobre o processo de inscrição. Como lembra Mariângela Sposito: “É uma chance de acolher a ideia, antes de acolher uma criança”.
Serviço
Nome do evento: Encontro do Família Acolhedora na Fenadoce
Data e horário: Terça-feira, 29 de julho, às 19h
Local: Estande da Prefeitura de Pelotas, na Fenadoce
Descrição: Apresentação com depoimentos de famílias acolhedoras e de uma adolescente acolhida atualmente. Ação busca sensibilizar e esclarecer dúvidas sobre o programa.
Gratuito
Contato: WhatsApp (53) 3199-0331 | Email: familiaacolhedorapel@outlook.com
*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.
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