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Fotografias e oralidade ajudam a recontar história do Porto

Fotografias e oralidade ajudam a recontar história do Porto

No coração do bairro Porto, cada fotografia antiga e cada relato carregam fragmentos de uma história que o tempo não apagou. Imagens guardadas em álbuns de família revelam construções já demolidas, ruas transformadas e momentos que marcaram a vida comunitária. Ao lado delas, as vozes dos moradores — com lembranças pessoais e histórias passadas de geração em geração — ajudam a compor um mosaico afetivo que reconstrói o passado da região.

Essa combinação entre registros visuais e memória oral é a essência do projeto Porto Memória, liderado pelo arquiteto e urbanista Guilherme Pinto de Almeida. Em entrevista ao programa Contraponto da RádioCom, ele falou de algumas das descobertas feitas desde 2016, destacou a importância de reconhecer o patrimônio como parte da identidade coletiva e apresentou a edição especial do Café Porto Memória, que integra a programação do Dia do Patrimônio em Pelotas.

Origens e descobertas: o Porto revelado por imagens e lembranças

O Porto Memória nasceu com a missão de documentar e divulgar a história da região portuária, unindo pesquisa histórica, iconografia e participação popular. Guilherme explica que o projeto começou no contexto de revitalização da orla e logo se transformou em um espaço de investigação contínua. “É uma escavação arqueológica figurada”, resume, ao falar sobre a análise de fotografias, gravuras e documentos antigos.

Entre as revelações, o pesquisador lembra que a área era originalmente território indígena, com vestígios arqueológicos como sambaquis e artefatos rituais. Mais tarde, durante o ciclo do charque, surgiram as charqueadas ao longo do canal São Gonçalo. O bairro também abrigou um balneário — a famosa “Prainha” junto ao Clube Regatas — e, em 1927, um hidroporto que recebia aviões anfíbios, fatos pouco conhecidos do público.

As imagens recuperadas contam parte dessa história, mas também revelam ausências. Guilherme cita a falta de registros visuais de trabalhadores escravizados, apesar da importância da população negra na formação econômica e social da cidade. Essa lacuna, segundo ele, reforça o valor de acervos particulares e o papel dos moradores em trazer à tona imagens e histórias esquecidas.

Além das descobertas pontuais, a pesquisa mostra como o traçado urbano guarda pistas do passado. O prolongamento da rua Benjamin Constant, por exemplo, foi registrado em cartões postais que ajudam a entender a ocupação e as transformações da região. Para Guilherme, cada detalhe visual é uma chave para compreender o presente a partir do passado.

Café Porto Memória: encontros que aproximam passado e presente

O Café Porto Memória se consolidou como um espaço para reunir moradores, ex-moradores e interessados em geral para compartilhar lembranças e fotografias. Desde maio, o evento acontece mensalmente na sede da Associação Otroporto Indústria Criativa, sempre com uma roda de conversa seguida de um café da tarde. A edição deste sábado, 16 de agosto, será especial, integrando as comemorações do Dia do Patrimônio.

Com vagas limitadas a 15 ou 20 participantes, a atividade valoriza a troca entre gerações e a escuta atenta de histórias pessoais. Guilherme destaca que a oralidade traz dimensões que os registros escritos e visuais nem sempre alcançam. “Aquilo que a gente não conhece, não consegue proteger, não consegue amar”, afirma, resumindo a importância do encontro.

Relatos emocionantes já marcaram o projeto. Uma das participantes, dona Terezinha de Jesus, chorou ao ver fotos de embalagens de produtos do frigorífico Anglo, onde trabalhou ao lado da mãe. Outro caso veio de uma moradora que apresentou imagens raras do antigo leito do arroio Santa Bárbara, registrando uma comunidade que desapareceu com a construção da barragem.

Esses momentos, segundo Guilherme, reforçam que preservar memória é preservar identidade. Mais que recordar o passado, o Café Porto Memória cria um vínculo afetivo com o presente e projeta possibilidades para o futuro da cidade.

Patrimônio imaterial: o valor das memórias vivas

O trabalho do Porto Memória vai além do registro físico de prédios e espaços. Ele também se dedica ao patrimônio imaterial — saberes, práticas culturais e lembranças que formam a identidade de Pelotas. Oficinas em escolas e parcerias com espaços educativos têm mostrado que, ao conhecer a história do bairro onde vivem, crianças e jovens passam a se sentir parte dessa narrativa coletiva.

Para Guilherme, esse é um ponto-chave para a preservação: quando a população reconhece o valor simbólico e afetivo de um lugar, aumenta a chance de que ele seja cuidado e mantido. Esse reconhecimento envolve, muitas vezes, revisitar memórias dolorosas, como a escravidão e o genocídio indígena, mas também celebrar manifestações culturais e histórias de resistência.

A abordagem interdisciplinar é outro diferencial do projeto. Ao unir arquitetura, urbanismo, fotografia, história oral e pesquisa documental, o Porto Memória constrói uma narrativa múltipla, capaz de dialogar com públicos diversos. Esse método garante que a história do bairro seja contada de forma mais completa e inclusiva.

O envolvimento comunitário é a base dessa construção. Cada fotografia compartilhada, cada relato gravado e cada participação nos eventos fortalece a preservação da memória e amplia o acervo disponível para futuras gerações.


Serviço

O quê: Edição especial do Café Porto Memória – Dia do Patrimônio

Quando: Sábado, 16 de agosto, das 14h às 17h30

Onde: Otroporto – Rua Benjamin Constant, 701A

Entrada: Gratuita e aberta à comunidade

Mais informações: otroporto.com.br/projetos/porto-memoria | Instagram: @otroporto | Telefone para confirmação: (53) 98464-4785


*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.


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