Mais Recentes :

III Conferência de Igualdade Racial começa amanhã com foco em justiça, democracia e reparação

III Conferência de Igualdade Racial começa amanhã com foco em justiça, democracia e reparação

A luta por justiça racial em Pelotas está prestes a dar mais um passo decisivo com a realização da III Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial. O evento será uma oportunidade para que a população negra, os povos tradicionais e toda a comunidade pelotense contribuam na formulação de políticas públicas voltadas à reparação histórica, combate ao racismo e promoção da equidade.

Durante entrevista ao programa Contraponto, da RádioCom, o secretário municipal de Igualdade Racial, Júlio Domingues, e a vice-presidenta da Comissão Organizadora do evento e presidenta da Comissão de Igualdade Racial da OAB Pelotas, Sinara Ferreira, destacaram os principais objetivos da conferência, os desafios enfrentados na organização e a importância da mobilização popular para consolidar um plano municipal de igualdade racial.

Uma construção coletiva para uma nova história

A III Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial acontece amanhã e sábado (dias 11 e 12) no auditório da Faculdade de Direito da UFPel. Sob o tema “Igualdade e Democracia: Reparação e Justiça Racial”, o evento marca um momento simbólico para a cidade, especialmente por ser a primeira conferência organizada pela recém-criada Secretaria Municipal de Igualdade Racial (SMIR).

“A conferência pode ser um ponto de partida para estruturar um plano municipal de igualdade racial que represente de fato as demandas da população negra da cidade”, afirmou Júlio Domingues. Ele destaca que esse processo não pode ser verticalizado. “É fundamental que envolva movimentos sociais, coletivos e instituições. O protagonismo tem que ser de quem vive essas realidades.”

Sinara Ferreira reforçou que a participação da SMIR possibilitou uma articulação mais ampla, com apoio de universidades, organizações da sociedade civil e movimentos tradicionais. “A construção tem sido coletiva, democrática e comprometida. Mesmo com desafios, conseguimos organizar um processo legítimo e representativo.”

Conferência deve marcar início do plano municipal de igualdade racial

A proposta da Secretaria é que a conferência funcione como ponto de partida para a criação do Plano Municipal de Igualdade Racial. Júlio Domingues explicou que a sugestão será levada à plenária, que poderá aprovar a criação de um grupo de trabalho voltado à elaboração do plano.

“Não temos uma proposta fechada, porque o mais importante é respeitar o processo de discussão coletiva. A ideia é abrir esse processo o mais amplamente possível”, afirmou o secretário. Segundo ele, muitas políticas federais exigem que os municípios tenham um plano municipal para acessarem recursos e implementarem ações efetivas. Pelotas, atualmente, ainda não conta com esse instrumento.

Ele complementou dizendo que, dificilmente, o público presente será contrário à proposta de iniciar essa construção. “A conferência reúne pessoas comprometidas com o avanço das políticas de igualdade racial. O espaço é ideal para começar esse debate de forma democrática e aberta.”

Abertura à participação popular e enfrentamento às barreiras de acesso

Apesar de acontecer no centro da cidade, a conferência foi organizada com atenção às necessidades de acesso da população negra, periférica e quilombola. A comissão garantiu que as inscrições poderão ser feitas também presencialmente e está organizando transporte para quem não conseguir chegar ao local por conta própria.

“Muitas pessoas que mais precisam ser ouvidas não têm acesso à internet ou meios para se inscrever. Por isso, deixamos tudo o mais aberto possível”, explicou Sinara. Júlio enfatizou que o protagonismo da conferência é das pessoas negras, mas que pessoas brancas também são bem-vindas — desde que entendam o papel de escuta e apoio.

O secretário também reforçou o convite para todos e todas: “A conferência é uma construção feita por pessoas pretas, com o apoio de diversas instituições. É uma oportunidade para avançarmos coletivamente em políticas públicas para a igualdade racial em Pelotas.”

Desafios da organização e fortalecimento institucional

Esta é a terceira conferência de igualdade racial no município, mas a primeira a ser organizada com o apoio direto da SMIR. Segundo Júlio, isso tem possibilitado articulações mais amplas, embora os desafios ainda sejam grandes. “Temos apoio institucional, mas também enfrentamos muitas resistências e limitações. Ainda assim, conseguimos envolver diversas entidades e montar uma comissão organizadora forte e plural.”

Entre as organizações que compõem a comissão estão a OAB Pelotas, universidades locais, movimentos sociais e coletivos religiosos. Sinara ressaltou que o processo tem sido democrático: “Tomamos decisões por consenso e construímos de forma conjunta, respeitando a diversidade de vozes e experiências.”

O balanço até agora, segundo ambos os entrevistados, é positivo. As expectativas são de participação expressiva e de que a conferência seja um marco na construção de uma política de igualdade racial mais sólida e permanente no município.

Acesso garantido: conferência busca incluir quem mais precisa ser ouvido

Um dos pontos destacados na entrevista foi a preocupação da comissão organizadora com o acesso ao evento, especialmente para pessoas de comunidades periféricas e quilombolas. Embora a conferência ocorra em um espaço central — no auditório da Faculdade de Direito da UFPel — a equipe responsável está adotando medidas para garantir que ninguém fique de fora por dificuldades logísticas.

“Temos participantes dos quilombos e estamos organizando a logística para buscar e levar essas pessoas até o local”, explicou Sinara. Segundo ela, essa preocupação reflete o compromisso da Secretaria em garantir que o evento seja realmente acessível à população que mais vivencia as consequências da desigualdade racial. “Se alguém acha que não consegue vir ou não tem como se inscrever, é só chamar no WhatsApp da Secretaria que a gente dá um jeito”, afirmou.

A possibilidade de inscrição presencial também foi pensada para ampliar a participação. Sinara Ferreira lembrou que muitas pessoas que deveriam estar nesses espaços de construção política não têm acesso fácil à internet, e por isso seria injusto restringir a entrada apenas a quem preencheu o formulário online. “A conferência é para todo mundo, principalmente para quem mais precisa ser ouvido. Queremos escutar essas vozes e garantir que estejam presentes.”

Essa estratégia de acolhimento faz parte da lógica de descentralização da política de igualdade racial defendida pelos entrevistados. Para eles, é preciso reconhecer e enfrentar as desigualdades de acesso como parte essencial do processo democrático. “A população negra, ainda que seja maioria, é invisibilizada. Não podemos reproduzir esse apagamento justamente em um espaço que pretende promover a igualdade racial”, finalizou Sinara.

Serviço

III Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Pelotas

Data: 11 e 12 de julho (sexta e sábado)

Horário:

- Sexta-feira (11/07): a partir das 18h

- Sábado (12/07): das 8h30 às 18h

Local: Auditório da Faculdade de Direito da UFPel (Praça Conselheiro Maciel, 215 – Centro)

Descrição: Evento voltado à formulação de propostas e políticas públicas para promoção da igualdade racial. Com eixos temáticos sobre justiça racial, democracia e reparação, a conferência reunirá lideranças comunitárias, movimentos sociais e representantes do poder público.

Inscrição: Gratuita.

- Pode ser feita antecipadamente via formulário online.

- Também será possível se inscrever presencialmente nos dias do evento.

Contato para dúvidas e informações:

- WhatsApp: (53) 99141-1026

- E-mail: smir@pelotas.rs.gov.br


*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.


0 comentários

Adicionar Comentário

Anunciantes

Envie sua notícia