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Incerteza e medo marcam a vida em abrigos
A incerteza sobre como as necessidades de saúde serão atendidas nos abrigos tem gerado medo entre as famílias que necessitam deixar suas casas nesse período de enchentes enfrentadas na cidade de Pelotas, desde o início do mês. No abrigo do Laranjal, onde atualmente residem 155 pessoas, esse sentimento é notável. Muitos abrigados hesitam em sair de casa devido à preocupação com a falta de suporte médico adequado, entre outras questões como a perda de seus bens materiais.
Saúde como Prioridade
Diante dessa situação, a presença de especialistas da área de saúde tem sido essencial para aliviar uma das maiores preocupações dessas famílias. Médicos, enfermeiros, psicólogos e estudantes da área têm trabalhado incansavelmente de forma voluntária para garantir que todos recebam o cuidado necessário. “A saúde precisa ser tratada como prioridade nesse momento, pois é uma maneira de proporcionar segurança e dignidade às pessoas que já estão passando por um momento extremamente difícil”, afirma Ângela Moreira professora do departamento de medicina social da UFPel.
Ângela também relata o que vivenciou nos abrigos: "Imagine a pessoa sair de um lugar bem consolidado, que é a sua casa e o seu bairro, onde ela tem atendimento no posto de saúde com médicos já conhecidos. A gente entende que isso é um susto — sair de casa e ir para um lugar totalmente diferente. Tudo isso gera confusão, especialmente para aqueles que se preocupam com como suas necessidades médicas serão atendidas. É uma situação de muitas incertezas, e nós estamos aqui para tentar tornar as coisas mais fáceis e acolhedoras", disse.
Voluntariado e solidariedade
Os desafios vão além das questões médicas. O medo e o receio de convivência são constantes entre os abrigados, especialmente para as crianças. Voluntários têm se dedicado a tornar o ambiente mais lúdico para os pequenos e mais leve para todos. Atividades recreativas, momentos de lazer e apoio emocional são algumas das ações realizadas diariamente.
Estrutura e atendimento médico
A estrutura improvisada no abrigo do Laranjal reflete a urgência e a criatividade dos envolvidos. Uma sala de aula foi adaptada para consultas médicas, onde mesas foram unidas para formar uma maca. “Sabemos que esse não é o cenário ideal, mas é o jeito que encontramos para conseguir trabalhar e ajudar as pessoas”, afirma Ana Paula Rosses, residente de medicina e uma das voluntárias do abrigo no bairro Laranjal.
Ela ainda destaca a importância de unir conhecimentos para ajudar o próximo. "A parceria consolidada entre a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e a Universidade Católica de Pelotas (UCPel) foi crucial. Essa colaboração permitiu a formação de uma equipe bem estruturada nos abrigos. Os voluntários dessas instituições organizaram um revezamento de turnos entre os profissionais de saúde, garantindo assistência contínua para os abrigados". Essa união é essencial para enfrentar as dificuldades e proporcionar um atendimento digno e eficaz aos necessitados.
A importância do respeito entre voluntários e abrigados
O abrigo no laranjal é administrado pela prefeitura, e tornou-se a casa provisória de muitas pessoas nesse momento tão difícil. É fundamental que todos os profissionais que atuam nesses ambientes respeitem esse espaço como um lar temporário para os abrigados. Compreender essa perspectiva é essencial para garantir que os serviços oferecidos sejam humanizados e eficazes.
Ingrid Oliveira, uma das coordenadoras do abrigo na ESEF (Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia) comenta: “Nós, como profissionais, estamos nos adaptando também. Tivemos que entender o que é ser voluntário em um abrigo. Não estamos trabalhando em um hospital; estamos atuando no que seria a casa das pessoas. Então, precisamos reconhecer nossas limitações como profissionais e trabalhar para oferecer o melhor apoio possível dentro desse contexto”, ressalta.
Desafios e soluções
Apesar dos esforços, nem sempre os medicamentos são a solução para todos os problemas. Ana Paula Rosses comenta que houve poucos casos graves decorrentes das enchentes, mas o atendimento à saúde vai além dos cuidados médicos tradicionais. "Estamos focando principalmente em cuidados preventivos, suporte psicológico e atividades que promovam o bem-estar", explica.
A equipe de voluntários se mostra entender, que a saúde é multifacetada e requer uma abordagem abrangente. Além dos tratamentos médicos, é necessário dar atenção à saúde mental e emocional dos abrigados. Ações como atividades recreativas, suporte emocional e orientação psicológica são partes essenciais dessa situação que estamos vivendo, é preciso ter uma estratégia para respeitar a autonomia e liberdade das pessoas dentro dos abrigos e ao mesmo tempo agir de forma profissional.
Redação: Luísa Brito
Foto: Léo Cardoso
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