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‘Luta’ entre variantes Delta e Gamma deve determinar os rumos da pandemia no RS
As confirmações de novos casos da variante Delta do coronavírus no Rio Grande do Sul, divulgadas nesta quarta-feira (4), trazem ao Estado o início de uma nova fase da pandemia já vivenciada em outros países. Surgida na Índia, a Delta é mais contagiosa e causou grande aumento de novos casos em diversos países da Ásia, Europa e nos Estados Unidos. No RS, a variante já é responsável por 15% das amostras sequenciadas pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) na última semana.
A chegada e o crescimento da Delta no Estado não é surpreendente para Alexandre Zavascki, infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Ele avalia que o Brasil tinha uma única chance de ser diferente dos outros países, chance essa representada pela variante Gamma (surgida em Manaus e incialmente denominada P.1), por já ser uma variante altamente transmissível e que poderia dificultar o avança da Delta. Nos outros lugares do mundo em que a variante identificada pela primeira vez na Índia chegou, em nenhum deles a Gamma era predominante.
“Quando ela chegou no Brasil, encontrou um ‘competidor’ muito qualificado, uma variante já bem transmissível, mas aparentemente ela está também conseguindo se impor de uma maneira rápida, não tão rápida quanto talvez em outros países. Então a nossa única chance de não repetir o que aconteceu no exterior, aparentemente não está se confirmando, que seria não conseguir superar a Gamma. Os dados iniciais indicam que sim, ela está conseguindo e possivelmente vai superar a Gamma”, explica.
Zavascki pondera que a vigilância genômica no Brasil não tem um planejamento geral, sendo feita de modo separado por diferentes instituições. Com isso, é difícil afirmar com exatidão qual o real estágio do avanço da variante Delta no País.
De qualquer forma, o infectologista considera elevado o percentual de 15% identificado pelo Laboratório Central do Estado (Lacen/RS). O primeiro caso de contaminação com a Delta foi confirmado no RS no dia 19 de julho, em Gramado.
O professor de Medicina da UFRGS espera que o impacto em hospitalizações e mortalidade, mesmo com aumento de casos, seja menor nos estados que tenham uma taxa de imunização completa mais avançada. No RS, considerando apenas a população-alvo (acima dos 18 anos), 74% já receberam a 1ª dose da vacina e 35,3% estão imunizados com as duas doses (incluindo quem recebeu imunizante da Jannsen, de dose única).
Além da parcela da população vacinada com duas doses, Zavascki destaca que a grande onda de contaminação no começo do ano pode ainda causar alguma imunidade em quem se infectou recentemente. “Temos muitas pessoas que foram expostas e foram vacinadas, então espero que talvez tenham imunidade maior do que somente quem foi vacinado.”
Por outro lado, ele enfatiza que há a população idosa imunizada com a CoronaVac, vacina considerada menos eficaz diante da nova variante. Recentemente, Uruguai e Chile anunciaram que darão uma terceira dose com outro imunizante em quem recebeu CoronaVac, e uma terceira dose da Pfizer para quem completou o esquema vacinal com este imunizante.
O infectologista acredita que essa tende a ser a evolução no enfrentamento da pandemia. “Primeiro todo mundo tem que ter acesso à vacinação completa, com duas doses, mas a realidade é que é possível que haja uma redução (na proteção) a partir de seis meses, e estamos diante de uma variante mais transmissível. É muito provável que em algum momento a gente vá fazer uma terceira dose, seja de vacina diferente ou da mesma.”
Especialista em saúde do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Richard Salvato explica que todas as amostras positivas, com carga viral mínima que permita a análise, estão sendo sequenciadas para variantes. O Rio Grande do Sul, diz ele, é o único estado do Brasil que tem feito a vigilância genômica desse modo. As análises são feitas com as amostras do Lacen, excluindo os testes feitos em laboratórios privados e algumas universidades.
“Com isso, conseguimos o objetivo de, assim que chegar a variante Delta no Estado, identificar em tempo hábil. Foi assim que identificamos os primeiros casos e, no decorrer das semanas, acompanhamos essa evolução”, afirma.
Salvato diz ser preocupante o rápido aumento de casos causados pela variante Delta no Rio Grande do Sul. Assim como o infectologista Alexandre Zavascki, ele destaca que tal fenômeno era esperado, ao mesmo tempo em que havia a dúvida de como seria essa “luta” com a variante Gamma.
O especialista em saúde avalia que o RS conseguirá responder em breve qual das duas variantes será a prevalente. Por enquanto, ainda não é possível saber o resultado dessa “briga” biológica entre as duas variantes do coronavírus altamente transmissíveis.
Os novos resultados da vigilância genômica no Estado serão divulgados na próxima sexta-feira (6). Dados parciais indicam que a presença da Delta seguirá entre 13% e 17% das amostras analisadas. “Essa estabilidade é, de certa forma, mais tranquilizante do que a gente imaginar que ela fosse aumentar muito rápido. A gente espera então que nessa semana e na próxima se mantenha no patamar de 15%”, explica Salvato.
Primeiramente identificada na Índia, é uma das chamadas “variantes de preocupação” (VOC, variants of concern na sigla em inglês), pois são variações que trazem alguma mudança no comportamento do vírus. A característica mais marcante da Delta, já comprovada cientificamente, é a maior transmissibilidade. Quanto à gravidade, ainda não há evidências de que a Delta provoque uma doença mais ou menos agressiva em relação às outras linhagens.
O Cevs realiza, pelo Laboratório Central do Estado (Lacen/RS) e pelo Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CDCT), testes preliminares para a identificação de casos suspeitos, incluindo sequenciamento parcial. As análises determinam se a amostra é uma provável variante de preocupação a partir da identificação de mutações específicas que são diferentes entre os tipos de vírus.
Ao serem enviadas para a Fiocruz, as amostras passam por um sequenciamento genômico completo, que fornece detalhes do perfil de mutações e classifica com precisão a linhagem de cada amostra.
Fonte: Sul 21
Imagem: Sul 21
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