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Marcha Mestra Griô Sirley Amaro: um tributo à ancestralidade e à luta do povo negro em Pelotas

 Marcha Mestra Griô Sirley Amaro: um tributo à ancestralidade e à luta do povo negro em Pelotas

Em novembro, mês da Consciência Negra, Pelotas é palco de um evento que carrega consigo o peso da memória, a riqueza da cultura afrodescendente e a urgência da luta por direitos: a Marcha Mestra Griô Sirley Amaro. O evento, que reúne a comunidade em torno de homenagens, manifestações culturais e reivindicações políticas, é dedicado à memória de Sirley Amaro, uma das maiores referências na preservação dos saberes e da cultura afro-brasileira na região.

O programa Contraponto desta terça-feira, 19, recebeu Marielda Barcelos Medeiros, professora, escritora, ativista e organizadora da marcha. Ela falou sobre a importância do evento, o legado de Sirley Amaro e os desafios enfrentados pela população negra no Brasil.

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"É uma marcha de resistência e pertencimento"

Para Marielda, a marcha não é apenas um evento cultural, mas um momento de reafirmação identitária e resistência política.

“Essa marcha é um chamado para que as pessoas negras ocupem seus espaços e reforcem suas identidades. É uma forma de honrar a memória de quem lutou para que estivéssemos aqui hoje. Sirley Amaro foi uma mulher extraordinária, que dedicou sua vida à preservação e valorização da nossa história. Quando marchamos, marchamos com ela e por ela”, afirma.

A memória de Sirley Amaro como guia da luta

Mestra Griô Sirley Amaro, cujo nome batiza a marcha, foi uma figura central na preservação das tradições afrodescendentes na região. Como griô, ela desempenhava o papel de guardiã e transmissora dos saberes ancestrais, passando adiante as histórias, os cantos e os ensinamentos da cultura africana.

“Ela era mais do que uma mestra griô. Era uma liderança que conectava gerações e nos fazia lembrar que a nossa história não começa na dor da escravidão, mas na riqueza da ancestralidade africana. Sirley nos ensinava que éramos muito mais do que nos fizeram acreditar. Por isso, manter viva a memória dela é um ato de resistência e de amor à nossa história”, ressalta Marielda.

Cultura, memória e luta social de mãos dadas

A marcha se destaca por unir celebração cultural e reivindicação política. Ao mesmo tempo em que promove apresentações artísticas, como rodas de capoeira, danças afro e música tradicional, também é um espaço para denunciar o racismo estrutural e discutir políticas públicas voltadas à população negra.

“Esse evento mostra que cultura e luta social não podem ser separadas. Quando marchamos, estamos dizendo que nossas histórias, nossas tradições e nossas vidas importam. É sobre ocupar as ruas com nossa cultura, mas também com nossas vozes, exigindo direitos e denunciando as desigualdades que ainda nos afetam”, explica.

Marielda enfatiza que a arte e a cultura afro-brasileira sempre foram formas de resistência diante da opressão.

“A capoeira, o samba, os terreiros de candomblé... Tudo isso é cultura, mas também é luta. É sobrevivência em um país que tentou apagar nossa existência. A marcha é a continuidade dessa resistência”, reflete.

Desafios para o presente e esperança para o futuro

Embora reconheça os avanços conquistados nos últimos anos, Marielda destaca que o racismo estrutural ainda impõe desafios imensos à população negra.

“Hoje temos mais consciência dos nossos direitos, mas o racismo continua presente em todos os aspectos da nossa sociedade: na educação, na saúde, no mercado de trabalho. A marcha também é um momento para lembrar que a luta não acabou. Ainda há muito o que fazer para que a população negra tenha igualdade de oportunidades e respeito”, afirma.

Apesar disso, ela mantém a esperança de que eventos como a marcha possam inspirar mudanças profundas.

“Nossa caminhada simboliza a resistência, mas também a esperança. Queremos que as futuras gerações de crianças negras saibam que têm um legado para se orgulhar e um futuro para construir. A memória da Sirley Amaro é uma inspiração nesse sentido. Ela nos mostra que é possível transformar o mundo ao nosso redor”, diz.

Um convite à comunidade: "A luta contra o racismo é de todos nós"

Para Marielda, a marcha não é apenas para a população negra, mas para toda a sociedade. Ela reforça que combater o racismo é uma responsabilidade coletiva.

“Todos estão convidados a participar e a aprender. A luta contra o racismo é de todos nós. Reconhecer e valorizar a cultura negra é essencial para construir uma sociedade mais justa. Quando você vem para a marcha, você não está apenas prestigiando um evento; você está se posicionando a favor da igualdade, do respeito e da dignidade”, afirma.

"Marchamos para lembrar, marchamos para lutar"

Marielda encerra nossa conversa com uma mensagem poderosa:

“Marchamos para lembrar de Sirley Amaro e de todas as pessoas que vieram antes de nós, enfrentando o impossível para que estivéssemos aqui. Marchamos para lutar pelos direitos que ainda nos são negados. E marchamos para dizer que estamos vivos, que estamos fortes e que nossa história continuará sendo contada.”

A Marcha Mestra Griô Sirley Amaro acontece amanhã, dia 21, com concentração no Altar da Pátria a partir das 17h. De lá, os integrantes seguem em caminhada até a Praça Coronel Pedro Osório e poderão desfrutar das atrações previstas para acontecer no largo do Mercado Público. A programação inclui apresentações culturais, debates, feira de empreendedorismo protagonizado por negras e negros e atividades para toda a comunidade. A lista completa das atividades pode ser consultada no perfil da Marcha Mestra Griô Sirlei Amaro no Instagram.

*Confira a entrevista completa com Marielda Barcelos Medeiros no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.



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