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No dia do golpe, filho de Jango lembra ‘triste noite de 21 anos’, defende reformas e repele tutela militar
Ponto de partida do golpe de 1964, a cidade mineira de Juiz de Fora foi nesta segunda-feira (1º) palco da Marcha da Democracia, para repelir a ditadura instalada há 60 anos. “O povo brasileiro não precisava ter passado por toda essa tragédia”, afirmou João Vicente Goulart, filho do presidente João Goulart, deposto seis décadas atrás. Ele se referiu a período que se seguiu como “triste noite de 21 anos”, exaltando o “sangue e sacrifício de todos aqueles que tombaram no caminho da democracia”.
João Vicente também ressaltou o “projeto de nação” que era defendido pelo governo Jango, com as chamadas reformas de base. Que incluía reformas agrária, educacional, a lei da remessa de lucros, Petrobras e Eletrobras públicas. Ele citou ainda a lei de 1962 que instituiu o 13º salário.
Sistema militar e financeiro
“Não queremos mais a tutela de militares”, acrescentou João Vicente, criticando também a “ameaça do sistema rentista”, que impede o desenvolvimento brasileiro com justiça social. “Esta pátria tem dono. É o povo brasileiro, que precisa reconquistar seus direitos. Como dizia Jango, a praça pública é do povo e só ao povo pertence.”
Caravanas saíram cedo do Rio de Janeiro rumo a Juiz de Fora. O objetivo era fazer o caminho inverso ao do golpistas de 1964. “Sessenta anos depois, a nossa democracia ainda corre risco”, afirmou a professora Helena da Motta Sales, que presidiu a Comissão da Memória e Verdade de Juiz de Fora. Ela ressaltou que a cidade mineira não pode ser lembrada apenas como o local de onde, em 1964, saíram as tropas comandadas pelo general Olímpio Mourão Filho, à época comandante da 4ª Região Militar.
Cidade da resistência
E acrescentou que Juiz de Fora sempre acolheu personalidades políticas, como o próprio Jango e o ex-governador Miguel Arraes. Além disso, no período anterior ao golpe a Câmara local formou uma bancada com quatro vereadores do PTB, partido de sustentação do governo federal – todos foram presos pela ditadura. “Não somos só a cidade de onde saiu o general Mourão. Somos também uma cidade da resistência e da defesa da democracia”, disse Helena.
Entre os vários participantes, estavam o assessor especial Nilmário Miranda, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, familiares de vítimas da ditadura, representantes de movimentos sociais e o cineasta Sílvio Tendler, diretor do documentário Jango (1984). A marcha teve apoio da prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão (PT).
Pela Coalizão Brasil por Memória, Verdade e Justiça e a Rede de Centros de Memória, Jessie Jane Vieira de Souza também destacou o permanente esforço por recuperar e preservar a história daquele período e suas consequências para o Brasil. “Esta é uma tarefa da minha geração e a futura, sem a qual não haverá um país democrático.”
Fonte: RBA
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