A cidade de Pelotas enfrenta desafios cada vez maiores diante dos eventos climáticos extremos que se tornaram mais frequentes nos últimos anos. Enchentes, tempestades, ondas de calor e períodos prolongados de seca são algumas das ameaças que exigem respostas rápidas e eficientes do poder público. Para lidar com essa realidade, a nova gestão municipal criou a Secretaria de Defesa Civil, uma iniciativa pioneira no estado que busca estruturar políticas de prevenção e resposta a desastres naturais.

Em entrevista ao programa Edição da Manhã nesta quarta-feira (5), o secretário municipal de Defesa Civil, Milton Martins, detalhou as metas e desafios da nova secretaria. Segundo ele, a prioridade é preparar Pelotas para os impactos das mudanças climáticas, reforçando a infraestrutura urbana, implementando medidas preventivas e mobilizando a população para agir de maneira eficaz em situações de risco. "Nosso objetivo é transformar Pelotas em uma cidade resiliente, que esteja preparada para enfrentar eventos adversos sem comprometer a segurança e a qualidade de vida dos cidadãos", destacou Martins.

Estruturação da Secretaria

A Secretaria de Defesa Civil está em fase de estruturação e organização, o que inclui a definição de sua sede e a obtenção de recursos materiais e humanos para garantir seu funcionamento adequado. A pasta já conta com equipamentos essenciais, como uma caminhonete, um caminhão e um barco, além de um estoque inicial de telhas e lonas para assistência emergencial em casos de desastres naturais.

Segundo Milton Martins, a secretaria será estruturada para atuar de forma integrada com outras secretarias municipais, evitando gastos desnecessários e garantindo maior eficiência nas ações. "Não queremos onerar os cofres públicos com novos aluguéis. Estamos buscando um espaço adequado dentro da estrutura municipal que possa ser utilizado sem gerar custos adicionais", explicou o secretário. Além disso, ele ressaltou que a pasta contará com apoio de universidades, institutos de pesquisa e órgãos estaduais e federais para fortalecer sua capacidade técnica e operacional.

Prevenção e resposta a eventos climáticos extremos

Uma das principais missões da nova Secretaria de Defesa Civil é a prevenção de desastres naturais e a criação de mecanismos que possibilitem respostas rápidas e eficazes em situações de emergência. Martins destacou que o sistema de drenagem da cidade, projetado há mais de 50 anos, não está adequado para os novos padrões climáticos, que registram chuvas intensas em curtos períodos de tempo. "Nosso sistema foi planejado para 100 mm de chuva em 24 horas, mas hoje temos picos muito superiores em apenas meia hora. Precisamos rever toda essa estrutura para evitar alagamentos severos e danos à população", alertou.

Entre as ações prioritárias para reduzir os impactos dos eventos climáticos extremos, a secretaria está focada na manutenção de diques, casas de bombas e redes de escoamento de água pluvial. Outra preocupação levantada pelo secretário é a ocupação irregular de áreas de risco, que agrava os efeitos das enchentes e dificulta a implementação de soluções urbanísticas eficazes. "Precisamos preservar os banhados e áreas naturais que atuam como amortecedores das cheias. Ao mesmo tempo, devemos evitar novas ocupações em regiões suscetíveis a alagamentos e estruturar estratégias para proteger os moradores já instalados nesses locais", explicou Martins.

Obras e projetos em andamento

A Secretaria de Defesa Civil, em parceria com o governo federal e estadual, está buscando recursos para viabilizar obras estruturantes e intervenções emergenciais. Segundo Martins, algumas das iniciativas já estão em andamento e são consideradas prioritárias para aumentar a resiliência da cidade diante de fenômenos climáticos extremos. Entre os projetos, destacam-se:

- Reestruturação da estrada e ponte da Z3, garantindo melhor acesso à região e maior segurança para os moradores;

- Reforço das casas de bombas do Laranjal e Vila Farroupilha, essenciais para evitar inundações em períodos de chuvas intensas;

- Melhoria no sistema de comportas para prevenção de alagamentos, reforçando a proteção das áreas baixas da cidade;

- Recuperação de infraestruturas danificadas por eventos climáticos, com foco na revitalização de estruturas públicas comprometidas por enchentes e vendavais.

De acordo com Martins, o governo municipal está articulando parcerias para garantir o financiamento dessas ações e torná-las viáveis no menor tempo possível. "Essas obras são essenciais para reduzir os impactos dos eventos climáticos e proteger a população, especialmente as comunidades mais vulneráveis", afirmou o secretário.

Participação da comunidade e voluntariado

A Secretaria de Defesa Civil também aposta na mobilização comunitária como ferramenta essencial para minimizar os danos causados por desastres naturais. Para isso, a pasta pretende criar programas de treinamento e capacitação para voluntários, incluindo jipeiros, radioamadores, operadores de drones e outros cidadãos que possam auxiliar em operações de resgate e suporte logístico.

Além do voluntariado, os moradores de áreas de risco receberão orientações específicas sobre como agir antes, durante e depois de um evento climático extremo. "A resposta a desastres não pode depender apenas do poder público. Precisamos capacitar a comunidade para que todos saibam como reagir em momentos críticos, reduzindo riscos e salvando vidas", enfatizou Martins. A proposta inclui a criação de núcleos comunitários de Defesa Civil, que atuarão diretamente nas regiões mais vulneráveis, ajudando a monitorar riscos e organizar ações emergenciais.

O secretário também destacou que a cidade precisa se preparar para outros tipos de emergências além dos eventos climáticos. "Temos um aeroporto próximo, um polo naval que lida com materiais inflamáveis e uma barragem por onde passam cargas tóxicas. A Defesa Civil precisa estar atenta a todas essas variáveis e se organizar para agir com rapidez e eficiência em qualquer cenário", afirmou.

*Confira a entrevista completa no canal da RádioCom Pelotas no YouTube.