Orgulho e Resistência: A 23ª Parada da Diversidade celebra Ancestralidade LGBTQIA+
O povo consciente e unido jamais será vencido (por Leonardo Melgarejo)
Estamos nos transformando em piada.
De humor mórbido, porque nos encaminhamos, rindo, para a vergonha total.
Dá dó ver e pensar que hoje ao mesmo tempo em que nos divertimos com nossas próprias desgraças, em maioria cruzamos os braços esperando que no dia 30 ocorra o corte do mal pela raiz.
Um corte pelo voto, a ser festejado na medida em que – esperamos – sinalizará o fim das ameaças de ditadura e corrosão da soberania nacional.
As alegrias contidas, que – confiamos – se esparramarão pelas ruas com a confirmação de que dia 30/10 mostraremos ao mundo que nosso povo, em manifestação democrática, majoritária e consciente, exige o afastamento, pelo voto, do presidente que mente e seus parceiros hoje empenhados em destruir a credibilidade de nossas instituições. Mas ao que parece estamos –pelo menos aqui no Sul – pouco dispostos a fazer, de fato, o necessário para que a mudança ocorra.
Em outras palavras, a eleição de Lula é fundamental, e ocorrerá. Mas não basta.
Se trata de um passo, de um esforço de recomeço que aponta para a continuidade dos enfrentamentos. E eles, os que vivem sob o domínio do mal, sabem disso.
Daí o desespero e as tentativas endoidecidas que estamos vendo acontecer.
Além de passar adiante um país em frangalhos, de mijar nos cantos para deixar suas marcas, eles querem evitar as consequências que os esperam e assim manter a seita ativa.
Tentarão, talvez, o pior dos caminhos? Agirão como ratos encurralados no canto da sala? Parece que sim e os sinais que deram esta semana apontam para isso.
Seguramente aquelas pessoas não se comovem com o sangue dos outros, nem possuem escrúpulos. Não dão a mínima para o fato de que nestes poucos anos a credibilidade internacional do governo brasileiro (e seus agentes), passou a valer menos do que as tortas do Sweeney Todd, e já se encaminha para o limite rasteiro das linguiças de Catarina Palse e José Ramos, aqueles que – com seus fiambres de carne humana – notabilizaram os horrores da Rua do Arvoredo, em Porto Alegre.
Como negar o impacto, sobre nossas crianças, da naturalização de dramas ao nível das filas de osso, da distribuição de armas que o exército não sabe onde estão, do avanço dos ecocídios, da exportação do sangue dos povos tradicionais e indígenas, na forma de grãos, bois, madeira e minérios obtidos de forma criminosa? E estes são apenas alguns dos símbolos que nos envergonharão por décadas, na medida em que sempre caracterizarão “nosso” presidente eleito, aquele que “só não comeu carne humana de um indígena Surucucu porque “ninguém quis ir com ele”.
É de esperar que pessoas tão arrogantes e ignorantes como o inominável, seus cúmplices diretos – e boa parte dos devotos – acreditem que provocando solavancos possam vir a animar malucos e com isso negociar arranjos que os livrem da Justiça comum. Isto talvez permitiria entender o Roberto Jefferson. E vejam que se trata do presidente do PTB, aquele partido criado por Getúlio e roubado do Brizola, que seguramente estariam conosco.
Após gravar vídeo dizendo que a ministra Carmem Lúcia lhe lembrava “aquelas prostitutas, aquelas vagabundas, arrombadas, né? Que aí viram pro cara e dizem 'Ih, benzinho, no rabinho? Nunca dei o rabinho, é a primeira vez”, Bob Jeff recebeu a Polícia Federal com granadas e tiros de fuzil. Não seria de perguntar o que justifica o tratamento vip que, apesar disso, lhe foi concedido pela PF? Ou pelo menos, de onde vieram as armas militares que estavam com ele, em sua “prisão domiciliar”?
Patinamos ou não, no esgoto, quando um ministro do desgoverno que concorre à reeleição (Fabio Farias, mais conhecido como “o genro do Silvio Santos”) informa que fará denúncia bomba capaz de acabar com as pretensões do candidato Lula? Ele com certeza terá suas convicções para fazer tal anúncio, sem provas, na última semana antes das eleições. Mas e os fatos? Não deveria, pelo mínimo, apresentar elementos que sustentem a credibilidade de sua pasta ministerial?
Enquanto rimos, quando os motivos seriam para vergonha e fúria, estão se repetindo de forma agravada as práticas da Lava Jato.
Parecem até brincadeiras, situações passadas no caso do power point daquele procurador das faces rosadas ou na declaração do presidente do TRF 4, supimpamente elogiosa ao parecer –para ele – “irretocável” de Sérgio Moro.
Sérgio Moro, aquele marreco de Maringá, que ao prender Lula, em processo sem provas, virou ministro com aspirações de ocupar a Presidência, cresceu puxando o saco de quem logo se tornou adversário, foi desmoralizado pelo hacker de Araraquara e agora retorna à condição de vassalo e bibelô do presidente que mente.
Rimos, destas e tantas outras palhaçadas que deveriam, no mínimo, nos constranger. Rimos e relaxamos.
Mas no fundo todos sabemos que hoje a situação é tão grave que cresce em termos de agressões e ameaças de morte. São emblemáticos os casos envolvendo ataques a vereadores petistas, denúncias de pressão de médicos bolsonaristas sobre pacientes, na mesa de cirurgia, vazamento de planos ministeriais para corroer o salário mínimo e as aposentadorias, desindexando-os dos fatores de correção inflacionária, a recomendação de demissão de professores para reduzir impostos e – em Santa Maria – aquele desabafo elucidando desejos de queimar em vida estudantes universitários antifascistas. E rimos disso.
O que pretendem estas pessoas que se desumanizam, empenhadas em atiçar o ódio e destruir o país? Não pensam sequer no sentimento de seus filhos e netos, diante do enxovalhamento e a desmoralização pública de seus nomes e sobrenomes?
Eles não se preocupam com biografias, ok. Mas até que ponto estarão dispostos a manter posição de confronto radical com nossa cultura, nossos valores, direitos e sentimentos?
Veremos durante esta semana e ao longo dos primeiros meses do governo Lula.
Por isso a convocação de irmos às ruas em defesa do futuro e para garantir um governo que como disse o Lula, não será do PT e sim dos democratas, não pode se limitar aos últimos dias desta campanha eleitoral.
Precisaremos mais do que manter a animação, o trabalho de conscientização dos vizinhos, a autocrítica e a vigilância constantes. Precisaremos aprender a valorizar e estimular a repetição de gestos como o da Xuxa.
Até há pouco apresentada como símbolo de alienação, a rainha dos baixinhos aí está, colocando-se de frente, disposta a encarar o mal, com a mesma coragem que deveria transbordar e ser expressa por todos, em enxurrada de telefonemas, conversas diretas, cartas, janelas e em profusão de cantos pelas ruas e praças deste país.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Foto capa: "Além de passar adiante um país em frangalhos, de mijar nos cantos para deixar suas marcas, eles querem evitar as consequências que os esperam e assim manter a seita ativa" - Charge: Rico
Edição: Katia Marko
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