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Pelotas busca ampliar rede de saúde mental e fortalecer atendimento humanizado
Saúde mental sem manicômios: cidade aposta em Caps, ambulatórios e ações nas UBSs para garantir acolhimento e tratamento contínuo à população
Pelotas trabalha para consolidar uma rede de saúde mental mais acessível, integrada e livre de internações prolongadas. A cidade, que já foi referência nacional no setor, quer resgatar esse protagonismo com ações voltadas à humanização do cuidado, alinhadas à luta antimanicomial.
Em um cenário onde transtornos psíquicos afetam cada vez mais pessoas, a ampliação e qualificação dos serviços de saúde mental no SUS têm impacto direto na vida da população. Pelotas conta hoje com oito Centros de Atenção Psicossocial (Caps), dois serviços residenciais terapêuticos, um ambulatório especializado e o programa de geração de renda Retrate. Três desses serviços funcionam 24 horas por dia.
A expectativa é ampliar ainda mais essa rede. Estão em pauta novas linhas de financiamento junto ao Ministério da Saúde para a instalação de um Caps III — unidade com atendimento 24 horas e possibilidade de internação de até 14 dias para pacientes com transtornos severos. Também há tratativas para abertura de leitos psiquiátricos em hospitais gerais da cidade.
Atividades públicas e arte para marcar a luta antimanicomial
Na última semana, a população pôde participar de ações que marcaram o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, celebrado em 18 de maio. Entre elas, a segunda edição do “Caps na Rua”, realizada no Largo do Mercado Central, e a abertura da exposição Pincelando Emoções, com pinturas produzidas por usuários dos Caps, em cartaz na sala Adail Bento Costa, na sede da Secretaria de Cultura, no Casarão Dois da praça Coronel Pedro Osório.
A proposta é reforçar o protagonismo dos usuários e tornar visível a potência dos processos de cuidado fora dos muros de instituições fechadas.
Atenção básica e cuidado em rede
Para além dos serviços especializados, há um esforço de integração com as 51 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do município. O objetivo é incluir ações de “matriciamento” — estratégia que prevê o suporte de equipes de saúde mental aos profissionais das UBSs em casos como luto, depressão leve e ansiedade, oferecendo acolhimento e acompanhamento sem necessidade de encaminhamento direto aos Caps.
Luciane Kantorski, coordenadora da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) de Pelotas, reforça a importância dessa abordagem integrada. “É muito diferente ter um surto e ser atendido num Caps ou numa internação breve em hospital geral, do que passar meses em um hospital psiquiátrico. Isso muda trajetórias de vida”, alerta.
A luta antimanicomial se baseia na Lei 3.657/1989, que estabelece a Reforma Psiquiátrica no Brasil. Essa legislação defende o fim progressivo dos hospitais psiquiátricos de longa permanência e promove alternativas como hospitais-dia, oficinas terapêuticas e serviços residenciais provisórios, em busca de um cuidado mais humanizado e integrado à sociedade.
Histórico de referência nacional
Pelotas foi destaque nacional em 2001 ao receber o prêmio David Capistrano, do Ministério da Saúde, pelo trabalho inovador na saúde mental. No ano seguinte, firmou convênio com a Universidade de Turim, na Itália, para capacitação e pesquisa. Parte dos avanços alcançados na época ainda sustenta a estrutura atual da rede.
Agora, o desafio é ampliar esse legado e adaptar o atendimento às novas realidades, com fortalecimento dos vínculos comunitários e combate ao estigma sobre os transtornos mentais.
Serviço
Exposição “Pincelando Emoções”
Local: Sala Adail Bento Costa – Casarão Dois da Praça Coronel Pedro Osório
Realização: Centros de Atenção Psicossocial (Caps)
Aberta ao público: consulte horários com a Secretaria de Cultura
Fonte: Prefeitura de Pelotas
Imagem: Volmer Perez/Secom
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