Pelotas em Luta: Sábado tem plenária aberta no Chafariz do Calçadão contra a PEC do Estupro
Por uns dólares a mais (por Leonardo Melgarejo)
Com as notícias da semana, dando conta de denúncias envolvendo a compra das vacinas que nos faltam para enfrentar a covid, pensei em escrever sobre o valor da vida, para o governo deste país. “A vida por um dólar”, seria o título sugerido. Nesta semana o diretor de logística do Ministério da Saúde (Roberto Ferreira Dias) indicado pelo líder do governo Bolsonaro (deputado Ricardo Barros - PP-PR), foi acusado de pedir propina de um dólar por dose de vacina, em lote de 400 milhões de doses. Quatrocentos milhões de dólares, a mais sobre o preço, apenas em vacinas.
Ao testemunhar na CPI da Covid, o intermediário da negociata, um cabo da polícia militar de Alfenas, pequena cidade do Sul de Minas Gerais, apresentou gravação que desmoralizaria outro deputado ex-bolsonarista (deputado Luís Miranda), que acusara o presidente Bolsonaro de prevaricação por conhecer e acobertar a maracutaia. Apontada como adulterada e alheia ao caso em pauta, aquela prova sugeria que o cabo que estava plantando na CPI gravação útil para o Bolsonaro havia sido traído por bolsonaristas.
Isso escancarou o ponto a que chegamos.
E me fez lembrar a “Trilogia dos Dólares” (“Por um punhado de dólares”, “Por uns dólares a mais” e “Três homens em conflito”), do diretor italiano Sérgio Leone. Especialmente o segundo filme, onde dois pistoleiros de aluguel (Clint Eastwood e Lee Van Cleef) se unem para caçar um outro criminoso (Gian Maria Volonté), que no enredo seria o pior de todos além de estar bem protegido por sua milícia. Estava em jogo o dinheiro, mas também haviam motivações ocultas que só se esclareceriam no final e aqui não vêm ao caso. Ao longo do enredo, capangas menores (como Klaus Kinsky) vão sendo descartados sem qualquer pudor enquanto a trama avança. No final, não há moral, apenas uma recompensa em grana e o embalo de uma trilha sonora espetacular. Tão repetida, tão festejada, aquela trilha, que superou os filmes e se tornou uma espécie de símbolo para o gênero western.
Algo semelhante parece estar acontecendo no governo Bolsonaro, em todas suas dimensões. Acertadas as condições de partilha do botim remanescente, coadjuvantes descartados ainda com vida começam a se revoltar, aliados de aluguel reorganizam suas posições. A nação começa a acordar e está vindo para as ruas, o STF reassumiu suas funções e os criminosos começam a perceber que dessa não escapam. Serão castigados, com o povo cantando e dançando nas ruas, ao tom do Lula lá.
É uma questão de tempo. Nisso, já não cabe mais a pergunta do “se”. E hora do “quando”. E só depende de nós.
Para finalizar, trago um exemplo positivo e inspirador, que aponta para o mundo pós Bolsonaro, Leite, Melo, e sem espaço para os 37 deputados que traíram o RS, aprovando o PL260.
Para fortalecer as ações e convicções dos que estão construindo aquele “quando”, recomendo: não deixem de assistir a esta entrevista com Nelsa Nespolo no programa Arte, Ciência e Ética num Brasil de Fato.
Com muita propriedade e energia, Nelsa nos coloca cara a cara com o tanto que podemos fazer, por nós, pelos nossos e pelo todo que nos circunda. Começa quando assumimos responsabilidades básicas pautadas por conceitos tão simples como o ver-julgar-agir que ela acalenta desde os aprendizados que colheu na Juventude Católica Operária, até os ensinamentos que distribui, na conexão entre as redes de economia solidária com que está envolvida.
A música de hoje é de Enio Morricone, do último filme da trilogia: Três homens em conflito.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial da RádioCom
Fonte: Brasil de Fato-RS, edição Katia Marko
Foto: O deputado Cabo Junio Amaral (PSL-MG), a quem teria sido denunciado o pedido de propina na compra de vacinas - Reprodução/Twitter
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