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Órgãos públicos e especialistas pedem cuidado redobrado com chegada da subvariante da covid-19

Órgãos públicos e especialistas pedem cuidado redobrado com chegada da subvariante da covid-19

A menos de dois meses do final do ano e após um período de queda nas contaminações pelo novo coronavírus em todo Brasil, nos últimos dias os casos voltaram a subir em diversos estados, por conta de uma nova mutação do vírus, a subvariante BQ.1. Especialistas e órgãos de saúde voltaram a recomendar que a população tome maior cuidado, com uso de máscaras em locais de risco e por pessoas vulneráveis. Além disso, há o apelo para que todos estejam em dia com suas vacinas.

Na semana passada, o governo do Rio Grande do Sul colocou o estado em alerta. A Fiocruz também emitiu alerta para o aumento nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em quatro estados, entre eles o RS. 

“Realmente a gente observa um aumento que tinha aparentemente se iniciado nos estados do Rio e São Paulo e hoje está bem mais marcado no Brasil inteiro. Tudo indica que é um aumento que está sendo ocasionado pela introdução da nova variante, chamada BQ.1, que é uma subvariante da ômicrom, também transmissível, com escape de proteção prévia para infecção pelas vacinas”, expõe o infectologista Alexandre Zavascki, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

Zavascki observa que não há indícios de que esta subvariante provoque doença de maior gravidade, mas é de se esperar aumento de casos e, consequentemente, de hospitalizações. “Mesmo que ela não seja de maior gravidade, às vezes compensa outras coisas, ou ela passa a ser tão frequente que a pessoa vai hospitalizar por algum motivo e está com a covid”, afirma.

Internações começam a subir no RS

A primeira semana de novembro chegou a registrar uma média de pouco mais de 200 casos diários confirmados da doença no Rio Grande do Sul, um dos melhores indicadores desde o início da pandemia. O recente aumento das contaminações já elevou a média, que na segunda-feira (14) chegou à marca de 481 novos casos por dia. Hoje (17), a Secretaria Estadual de Saúde (SES) registrou 1.675 casos. O número de óbitos ainda não reflete esse aumento, estando na média de duas mortes diárias.

As internações de pacientes com covid-19 confirmada ou com suspeita da doença, que vinham em queda, já começaram a apresentar mudança de tendência. Em leitos clínicos de hospitais do RS, hoje, estão internados 199 pacientes, enquanto no início de novembro eram 150. Nas UTIs, estão internados 61 pacientes, enquanto no início do mês eram 45.

Retomar cuidados com aglomerações e atualizar vacinas

Diante o crescimento dos casos e internações pelo país, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde voltou a recomendar, neste domingo (13), a utilização de máscaras. Com nove casos identificados da nova variante no estado, a SES também recomendou a retomada do cuidado.

A pasta destaca preocupação com o atraso na imunização da população gaúcha. Até esta quarta-feira (16), mais de 3 milhões de pessoas ainda não haviam tomado a primeira dose de reforço contra a covid-19, equivalente à terceira dose, segundo o painel de Acompanhamento Vacinal da Secretaria da Saúde. Outros 2,2 milhões não foram vacinados com a segunda dose de reforço (quarta dose).

O coordenador da Vigilância Genômica no Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Richard Steiner Salvato, explica que a situação de redução em hospitalizações e óbitos só foi possível pela vacinação da maior parte da população. "Mas para que a vacinação continue a ser eficaz, é necessário que o esquema vacinal esteja completo, com a terceira e a quarta dose da vacina”, frisa.

Na última sexta-feira (11), o Comitê Científico de Apoio ao Enfrentamento a Pandemia Covid-19 emitiu Nota Técnica com alerta e recomendações à população, com o reforço do uso de máscaras, da vacinação e a ampliação da testagem. O texto ressalta que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as vacinas atuais contra covid-19 devem seguir protegendo contra a doença e suas formas mais graves provocadas pela infecção por novas variantes.

Especialistas reforçam a necessidade de cuidados básicos 

Assim como recomendado pelos órgãos públicos, o presidente do Conselho Estadual de Saúde (CES-RS), Cláudio Augustin, frisa ser importante o uso de máscaras em lugares fechados. O que, conforme observa, não vem sendo feito. “É uma medida extremamente necessária para se evitar a transmissão deste vírus novo. A população deve exigir o uso de máscara em locais fechados, no transporte público, etc”, avalia.

Ao comentar a situação da covid atualmente, o presidente do CES lamenta que o cuidado necessário que não foi feito no período mais duro da pandemia continua sendo negligenciado. “Todo o período da covid foi isso, não se tem prevenção”, afirma. 

Zavascki também enfatiza a importância de se reforçar os cuidados. Principalmente da população de maior risco, que não tem boa resposta às vacinas, que são os imunossuprimidos, como por exemplo transplantados, pacientes que fazem uso de algumas drogas imunossupressoras e as pessoas muito idosas.

Ele entende que, apesar de ser difícil voltar o uso obrigatório de máscara, é importante que as pessoas saibam que o vírus voltou a circular com mais intensidade e que há maior risco de contaminação. “Então em situações de risco, como ambientes fechados ou com muita gente, que se volte a usar a máscara, que acaba sendo uma proteção”, opina.

O futuro do combate à covid-19

Para o infectologista, é importante que seja debatida a questão das vacinas, não só com relação a novas fórmulas que incluam maior proteção contra novas variantes, mas também para resgatar aquelas pessoas que ficaram com esquemas incompletos. Ele destaca que são as vacinas que garantiram que as novas ondas não tenham grandes consequências em termos de agravamento para a população geral.

“Isso é tão importante quanto, para o futuro do enfrentamento da pandemia da covid, vacinar pessoas que não se vacinaram ou não completaram seus esquemas de reforço, então certamente o novo governo vai ter uma tarefa bem grande quanto a isso”, avalia.

Augustin chama atenção para o fato de que as vacinas disponíveis no país atualmente não são as mais adequadas, visto que já existe uma segunda geração sendo aplicada em países europeus e nos Estados Unidos. 

“A Anvisa já encaminhou a solicitação mas ainda não houve a liberação da mesma. Pelo que se sabe não foi comprada essa vacina, é uma coisa bastante preocupante. As vacinas que temos aqui não dão conta dessa nova cepa”, observa, enfatizando que o país “segue com a mesma política negacionista” com relação à pandemia.

O presidente do CES também chama a atenção para outro problema que não pode ser esquecido, a falta de política de recuperação para as pessoas que estão com sequelas da covid, tanto em âmbito federal quanto estadual. “Continua  a falta de prevenção e a recuperação das pessoas que foram adoecidas, são dois problemas. Continua sendo a mesma política negacionista que não enfrenta a doença”, conclui.

O RS registrou, desde o início da pandemia até hoje, 2.753.209 casos confirmados de covid-19 e 41.228 óbitos em função da doença.  Até o momento apenas 54,3% da população residente tem o quadro vacinal completo e 82,6% tem o esquema vacinal primário.  

Marcelo Ferreira e Fabiana Reinholz-Brasil de Fato | Porto Alegre


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