Orgulho e Resistência: A 23ª Parada da Diversidade celebra Ancestralidade LGBTQIA+
RádioCom celebra 23 anos ao lado da comunidade de Pelotas
Hoje consolidada, a emissora se mostra atenta às transformações no cenário midiático sem abandonar princípios que nortearam sua fundação
Há mais de duas décadas, dirigentes sindicais, jornalistas, lideranças comunitárias, estudantes e ativistas culturais de Pelotas se reuniram com um objetivo em comum: exercer o direito constitucional à comunicação. Motivados pela ainda recente promulgação da Constituição Federal, de 1988, os movimentos sociais passaram a protagonizar diversas experiências do que, naquela época, convencionou-se chamar de “comunicação alternativa”.
As últimas décadas do século XX foram bastante significativas, neste processo, com interesses políticos determinando a distribuição de outorgas para apadrinhados dos governos de turno, priorizando a ampliação dos grandes meios de comunicação, por meio de emissoras afiliadas, que hegemonizaram o serviço de radiodifusão. Mesmo com estes entraves, algumas experiências de comunicação não se deixaram abater e persistiram. A outorga da RádioCom veio apenas em 2012, mas nem por isso a emissora deixou de operar, enfrentando todo tipo de arbítrio e proibições para fazer valer os artigos que regem o direito à comunicação no Brasil.
Protagonismo do Sindicato
Fundador da Rádio e ex-diretor do Sindicato dos Bancários de Pelotas e Região, o jornalista Clomar Porto relembra o temor que havia, na época, em colocar a emissora no ar. Em 1998, ainda era recente o período de redemocratização do país, que havia sofrido com 21 anos de ditadura militar. “A gente tinha um receio porque podíamos perder tudo. Fizemos um pequeno estúdio, no Sindicato dos Bancários, e realizamos algumas transmissões experimentais”, relembra, com carinho, ao comentar que a decisão de colocar a emissora no ar, no dia 12 de junho, partiu de uma tomada de posição, conjunta, de que era preciso enfrentar as adversidades.
Clomar também recorda que todo o debate sobre a RádioCom passou pelas reuniões no Sindicato dos Bancários, que ocuparam um espaço de três anos. De acordo com o idealizador do projeto, o grande acerto, naquele momento, foi o de ter conseguido interpretar as características da cidade. “O nosso segredo, naquele início, foi o de não fazer uma rádio sindical. A rádio nasceu no Sindicato, mas a gente preservou muito a ideia de fazer uma rádio que interpretasse a cidade a partir das trabalhadoras e dos trabalhadores, organizados, dos movimentos sociais, e de todo potencial cultural que a cidade possui”.
O jornalismo e sua função democrática
A presença de uma rádio comunitária afeta diretamente a forma como a população entende a democracia. Em vez de uma comunicação centralizada e homogênea, a rádio comunitária permite uma pluralidade de vozes e opiniões, essencial para a saúde de qualquer sistema democrático. Clarissa Henning, coordenadora da equipe de jornalismo da RádioCom, comenta: "O jornalismo é filho da democracia. Ele é fundamental para a saúde da democracia. Defendendo o jornalismo nesse papel de Quarto Poder, reconhecemos que o ecossistema da comunicação depende da existência de um ambiente democrático. Esse contexto é a base de onde todos nós, todo nosso povo vêm."
O fechamento de veículos de comunicação tradicionais como o Diário Popular, mencionado por Clarissa, sublinha ainda mais a relevância dos veículos comunitários sérios. Eles preenchem um vazio deixado por essas perdas, garantindo que a população continue a ter acesso a informações locais e críticas de qualidade. Além disso, essa forma de comunicar serve como uma ferramenta de resistência contra a monopolização da mídia, promovendo a diversidade.
O diferencial: Um espaço de liberdade e respeito no modo de fazer o jornalismo
José Luiz, um dos veteranos e atual coordenador geral da RádioCom, comenta com carinho: "Eu já trabalhei em uma rádio comercial, mas a RádioCom marcou para mim. A diferença é a sensação de chegar, aqui, e ter a liberdade de fazer o nosso trabalho com segurança e tranquilidade. Acho que, na RádioCom, o diferencial é esse respeito pela opinião da maioria que forma a rádio."
Essa essência de respeito e liberdade faz da RádioCom um exemplo vivo de como a comunicação comunitária pode fortalecer a democracia. Ao celebrar 23 anos, a RádioCom reafirma seu compromisso com a diversidade de vozes e a promoção dos valores democráticos, mantendo viva a missão de ser uma plataforma onde a comunidade se reconhece, se organiza e se expressa. É essa dedicação que continuará a guiar a RádioCom no futuro, enfrentando desafios e celebrando conquistas ao lado da comunidade de Pelotas.
Redação: Eduardo Menezes e Luísa Brito
Fotos: Acervo RádioCom
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