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Seminário aborda Políticas Para as Mulheres na UCPEL

Seminário aborda Políticas Para as Mulheres na UCPEL

Sábado 03 de dezembro , Pelotas sediou a primeira edição do Seminário Regional de Políticas para Mulheres e Meninas do Rio Grande do Sul. O evento faz parte da campanha dos 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra mulheres e meninas e é promovido pela Rede Sul, que trabalha a garantia de direitos deste público. A entrada foi um quilo de alimento não-perecível e as atividades ocorreram das 9h às 17h no Auditório Dom Antônio Zattera, da Universidade Católica de Pelotas (UCPEL), na rua Félix da Cunha, 412 (com entrada pela Três de Maio).

Entre os eixos temáticos estavam Prevenção e enfrentamento às violências de gênero e raça com Juacema Lima e Viviane Martinez. Também , Saúde integral das mulheres e meninas com Clarice Duarte, Rejane Vieira e Dra. Aline Dutra, Trabalho: geração de renda e autonomia com Luciara Lira e Dra. Luciana Dombkowitsch. Além disso , houve o eixo Participação nos espaços de decisão e poder - Dra Neusa Ledesma e Dra. Luciana Teixeira . Por fim, Educação inclusiva e antirracista para a igualdade e diversidade - Diná Bandeira e Dra. Adriana Lessa.

A reportagem da Radiocom esteve no evento e conferiu um dos eixos como o de Educação inclusiva e antirracista para a igualdade e diversidade.

A professora e doutora Adriana Lessa Cardoso introduziu fazendo com que cada uma das participantes se apresentasse e trouxesse suas contribuições ao debate. " Minha formação é Geografia e Pedagogia. Conclui agora o doutorado em Educação, fazendo uma tese sobre "Educadoras Feministas e Temos como não ser feministas ", além de ser uma pergunta é uma exclamação também. A partir de toda uma indignação das desigualdades e opressões vem construindo essa educação feminista. Ela precisa ser interseccional, ou seja, tem que perpassar pela classe, gênero , raça e pela sexualidade. Entre outras situações como capacitismo", resume.

Também participou Diná Bandeira, associada do Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas (Gamp) e conselheira no Conselho Municipal dos Direitos da Mulher onde ressalta que mesmo que não seja exatamente sua área, fez questão de trazer algo para o eixo da educação.

" Nada é por acaso, até porque eu olhando agora temos aqui seis mulheres negras. Então, vários indicadores ,sinalizadores de como começar esse debate mais do que urgente e necessário. Um processo de recomeço. Temos que ressurgir das cinzas. A educação é principal , aí citamos a educação antirracista, inclusiva", finaliza Diná. Segundo ela, apesar de estar no seminário, não foi escolhida para estar nesse eixo, porém, por isso mesmo ela pôde sentir como será a próxima edição.

A próxima a se manifestar na roda do eixo de educação é a professora Marielda Barcellos.

"Lembro desde pequena quando ainda estava na primeira série , entrei alfabetizada. De lá para cá, minhas brincadeiras de infância , brincava com toda as amiguinhas até as bonecas de dar aula. Aos 14 anos, eu surpreendi meu pai e minha mãe, minha mãe era uma mulher super católica, meu pai foi criado num abrigo de menores . Ela era muito religiosa, até brincávamos que podia chover canivete que ela ia à igreja, se não fosse pela manhã ,ia à noite. Aí por volta de 1975 , eu me deparo com a construção do Grupos de Agentes Pastorais Negros através da Igreja Católica. Aí disse um dia para a minha mãe que eu depois de ter feito uma formação na Igreja São José no Bairro Fragata, eu vou militar. Foi um susto para ela. Disse que tinha uma formação em Porto Alegre, fui para a capital e ela mobilizou toda a família. Não sofri esse histórico de infância assim de já ter entrado na escola alfabetizada, enfim. Também porque essa militância me fez essa educadora . Eu gosto sempre de dizer as minhas titulações eu sou uma ativista social educadora. Foi esse movimento que me formou e me fez constituir na professora que fui até 2017 da educação infantil até o ensino médio e na formação de professores. Desde sempre na minha casa , até disse isso na tese de doutorado , a mãe me sentava nas pernas dela enquanto me trançava , para mim aquilo era um ato educador, de acolhimento, me fazia sentir pertencente e naquele momento sabia onde eu era, onde estava, tendo esse pertencimento".

A educadora Marielda ainda salienta que a Escola a partir do momento em que ela entrou não a mostrou as coisas que aprendeu dentro da militância no Movimento Negro , entre outras.

" A escola e a universidade também muito pouco falava do meu povo e ainda hoje pouco traz , se surpreendem conosco, quando chegamos com as bibliografias , com os autores negros que a gente conhece. Até porque, nesse movimento foi pesquisar, buscar conhecer. Então, nunca me contemplou. Essa educadora que sou, mesmo aposentada hoje é fruto dessa militância".

Marielda terminou seu doutorado há pouco . A linha de pesquisa foi como também no mestrado , embora com uma temática pontual, mas no doutorado que atravessou uma ponte entre a educação e a antropologia . Era uma linha que chamava sua atenção que é a Antropologia Social e Cultural e que tudo a ver com ela, com sua militância , nas coisas na qual acredita e na trajetória de vida.

" Até dá vontade de dizer às vezes vou parar com tudo, vou descansar, mas não adianta. A gente fica olhando para um lado e para o outro, mas vê que não dá pra ser assim. Que no próximo ano sejam novos tempos e possamos estar muito melhores que vivemos", finaliza.

Maica Tainara Soares , quilombola , estudante, representante do povo quilombola na Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos da cidade. e veio para o evento para trazer sua experiência no eixo de educação antirracista .

" Na minha cidade a gente trava uma luta muito árdua, tem acontecido vários casos de racismo. A nossa luta é para que seja implementada a Lei 10.639-2003 na qual aborda a História e Cultura Africana nas escolas e ainda por mais que faça tempo . É uma dificuldade seja de fato trabalhada a verdadeira história da contribuição do nosso povo".

De acordo com Maica, em Canguçu foram constituídas 16 comunidades quilombolas , considerado o maior número de comunidades do estado.

A próxima a falar foi Eliana da Rocha , a primeira estudante quilombola a fazer graduação em Psicologia . " Eu fiz processo seletivo específico para negro quilombola. Meu pai, minha mãe também são de comunidade quilombola. No nosso quilombo temos essa questão de Feminismo, Educação Antirracista. A situação só vai mudar ,especialmente para as próximas gerações se houver uma educação antirracista. Não adianta ser somente antirracista e não trabalhar a Lei 10.639. Estive com a Maica junto com as comunidades quilombolas no Conselho Municipal do Desenvolvimento da Comunidade Negra de Canguçu". Além disso , nessa mesma roda de debates, houve a participação de Helô Martins da Rosa e Luiza Soares de Pelotas.

Após as apresentações iniciais, houve o debate sobre o Feminismo e Educação apresentado por Adriana Lessa. Ao longo da conversa se obteve as contribuições e sugestões das presentes para que sejam colocadas a seguir . Mulheres de pelo menos 12 municípios estiveram representadas no seminário.

Alguns números da violência contra a mulher

Rio Grande segue sendo um destaque negativo regional, enquanto Pelotas tem apenas um feminicídio neste ano. Porém, outras violências continuam. Agressão, ameaça, tentativa de feminicídio isso tudo aumento. Até esta sexta-feira, 93 mulheres já haviam sido vítimas de feminicídio no Estado este ano. No ano passado, foram 99. Segundo os dados, em locais mais isolados, o cenário é pior, pelo silenciamento e pela falta de informações. Já municípios que têm uma única assistente social para atender toda a demanda, incluindo a violência doméstica.

Procuradoria da Mulher da AL-RS lança cartilha sobre violência política de gênero

Durante lançamento, vereadoras de municípios do interior relataram rotina de ofensas por colegas parlamentares

A Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul lançou nesta sexta-feira (2) a cartilha “Violência Política de Gênero: a maior vítima é a democracia”, que aborda a violência sofrida por mulheres que ocupam cargos públicos.

A publicação aborda a Lei 14.192/2021, que estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher e torna crime esse tipo de prática. Além disso, a cartilha apresenta exemplos e divulga os canais institucionais para denunciar ações que atentem contra a dignidade das mulheres.

“Precisamos dar visibilidade à violência política de gênero, pois a democracia só existe de fato com a mulher ocupando espaços na política. O machismo, por outro lado, é super-representado na política”, defendeu a procuradora especial da Mulher, Sofia Cavedon (PT).

A parlamentar afirmou que a violência contra a mulher é calada na família e tem o debate patrulhado na escola, ao mesmo tempo em que os orçamentos para as políticas públicas para as mulheres na saúde, segurança, educação e assistência social vêm caindo de forma significativa. “E é na política que vamos reverter este quadro”, disse.

Durante o evento de lançamento, as vereadoras Estela Balardim (PT), de Caxias do Sul, Caren Castêncio (PT), de Bagé, e Rita Dela Justina (PT), de Sapiranga, deram depoimento sobre suas experiências. Minoritárias nos parlamentos de seus municípios, elas relataram os mais variados tipos de agressões de que são alvos no exercício cotidiano de seus mandatos.

Vereadora mais jovem de Caxias do Sul, Estela narrou uma rotina de deboches, interrupções, exclusões de decisões e ameaças nas redes sociais que partem de seus próprios colegas no legislativo municipal. As agressões culminaram com um pedido de cassação, ameaças de morte e a pecha de burra. “O vereador que mais estimulou esse tipo de violência garante que não é machista, pois até usa o elevador comigo”, disse, revelando que a Câmara Vereadores do município serrano aprovou uma moção em que pede a redução do percentual obrigatório de candidaturas de mulheres de 30% para 15%.

Caren relatou que quase chegou a ser agredida fisicamente por fazer um pedido de vistas para o projeto que tratava da implantação de escolas cívico-militares na cidade. Ela diz que é constantemente xingada de desequilibrada, histérica e raivosa durante as sessões parlamentares e, quando reclama, é acusada de “sempre tentar se vitimizar”.

A última agressão que sofreu foi a manipulação de uma fotografia sua publicada nas redes sociais. No lugar de seu rosto, colocaram uma máscara de palhaço. O caso foi parar na Justiça, que deu ganho à causa da petista. “Eles fazem de tudo para mostrar que ali não é nosso lugar”, afirmou.

Reportagem Fábio Cóssio com informações do Diário Popular e do Sul 21

Foto: Fábio Cóssio


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