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Sétima edição do Freak Festival mostra força da arte autoral em Pelotas no dia mundial do rock
Aconteceu no último sábado (13) a sétima edição do Freak Festival, evento gratuito que reúne artistas pelotenses. A proposta do projeto é valorizar esses artistas e proporcionar apresentações que desenvolvam debates sociais e fomentem a cultura local. Os shows aconteceram no auditório do IFSul devido à previsão de chuva e reuniu atrações dos mais variados estilos do rock para contemplar um público que foi de jovens e adolescentes até adultos e crianças de colo. Foi um fim de tarde que marcou a necessidade e a importância da manutenção de espaços que levem a arte de maneira democrática até a população.
O Freak Festival é um festival que começou no início dos anos 2000, organizado pela banda pelotense Freak Brotherz, uma das mais longevas do rock nacional e que já conta com 25 anos de carreira sem nunca ter parado. A proposta da banda sempre foi fazer composições autorais e diversificadas que transitam entre o rock, o hardcore, o metal e o hip hop. Foi através da transição entre todos esses estilos que surgiu a ideia de reunir todas essas “tribos” em um evento plural e diverso.
“A gente transitava entre essa galera toda e, já que a proposta da banda é fazer um som diversificado, vamos tentar juntar essas tribos diferentes, essa galera diferente num evento só. E assim começou o Freak Festival, no início do século XXI, eu acho. Os primeiros foram aí, por volta de 2000, 2001, a Freak Brothers começou em 98.”, conta Danilo Ferreira, vocalista da Freak Brotherz e organizador do evento.
Nesta edição, a primeira artista a subir ao palco para dar início ao evento foi a rapper e compositora “Bad Bitch”, a segunda apresentação ficou com o quinteto de música pop instrumental “Autocine”, seguido pela banda de power metal “Marenna”. A quarta apresentação ficou por conta dos anfitriões da casa, a banda “Freak Brotherz”. O duo “Departamento D” deu início à segunda metade do festival e a apresentação seguinte ficou com a banda de música “Pimenta Buena”. O encerramento da noite ficou com a banda de hardcore “Marinas Found”, um dos maiores e mais relevantes nomes do gênero na região.
As edições aconteciam de maneira independente, sem incentivos públicos, até a quarta edição, com realizações no antigo Galpão do Rock, hoje conhecido como Galpão Satolep. Apesar de necessário, ele não é um festival ininterrupto, que acontece todos os anos. A partir da quinta edição, com o surgimento de leis de financiamento, o formato do festival pôde adotar o formato atual, com apresentações gratuitas para o público, mas que garantem retornos financeiros aos artistas.
No novo formato, acontecem também oficinas que promovem discussões e debates com a comunidade sobre temas diretamente relacionados a ela, como uma contrapartida social, parte muito importante em todo evento público. De uma maneira mais democrática, as oficinas incentivam, também, uma visão crítica sobre os meios de comunicação, de cultura e de produção artística, em geral. “O que está rolando aqui é financiado por esse povo sofrido da cidade de Pelotas, que paga um IPTU caro, que honra os seus compromissos, e acho que a gente tem que devolver o melhor [festival] possível.”, conta Danilo.
Na oficina que aconteceu pela manhã, houve um debate sobre a importância das emissoras públicas para fomentar e divulgar as cenas independentes. Em edições passadas, também aconteceram oficinas de história em quadrinhos, oficinas de DJ com DJ Misha e oficinas de composição e melodia com o Igor Santos, um multi-instrumentista.
A realização da sétima edição do festival, terceira neste formato, teve o apoio do edital Procultura de 2022. Dois anos após a aprovação, o festival estava inicialmente programado para acontecer no dia 27 de abril de 2024. Devido às fortes chuvas e enchentes que assolaram o estado, o evento precisou ser adiado. A escolha da nova data foi decidida a fim de realizar o evento no melhor momento possível, afirma o organizador.
A sétima edição do festival marca um momento histórico para a cultura local. Após cerca de um mês interrompidos, os eventos artísticos voltam a acontecer e mostram a força da arte na cidade, que sobrevive como pode. A classe artística sofre com a precariedade e má administração dos recursos públicos pela atual gestão administrativa da Secretaria da Cultura de Pelotas, que ficou por mais de um ano sem lançar o edital de política pública mais importante, o Procultura.
Além da má alocação dos recursos públicos, artistas e produtores de eventos notam haver uma resistência em relação ao valor dos cachês (valor pago aos artistas pelo estabelecimento). Gil Soares, flautista da banda Autocine, uma das atrações da sétima edição do Freak Festival, conta que “tem muita produção e tem muito público, mas o nosso mercado é pouquíssimo profissionalizado. Na rede privada do mercado de música a realidade é mais difícil. Tu não consegue cobrar. O cover que o pessoal cobra em bar é o mesmo há 20 anos. Então é uma conta que não fecha.”
Gil também destaca haver dificuldades relacionadas ao público, que prefere comprar ingressos para shows nacionais com valores elevados a ir em eventos com atrações locais. “Isto é uma coisa que o público é muito resistente: ele aceita pagar 200 reais num show nacional no [Theatro] Guarany, mas acha complicado pagar 20, 25 de cover pra assistir um artista local.”
Eventos como esse são fundamentais para abrir o espaço para os artistas terem onde expressar a sua arte e sejam incentivados a fazer suas próprias produções. A arte autoral é fundamental para preservar a identidade individual de grupos e servir de incentivo para que novos nomes surjam. É a partir dessa aproximação entre artista e público que acontece o enriquecimento cultural, por isso a necessidade de leis de incentivo cultural que possibilitem eventos como esse.
Para eternizar o evento, Danilo conta que será produzido um mini documentário. A Mayhem Produções ficou responsável por fazer gravações e captações dos shows para que futuramente todo o material seja disponibilizado na internet e fique como registro de uma data tão especial. “Isso tudo vai pra internet e vai ficar ali imortalizado. Vai ficar ali na rede para dar um recorte. Quer dizer, no futuro, se alguém quiser saber como era a cena de Pelotas em 2024, vai ter um fragmento ali, vai ter ali um registro.”, contou Danilo.
Para edições futuras, a promessa é que o espaço seja aberto para uma pluralidade de artistas ainda maior e traga novidades em relação às bandas que devem compor o line-up. Danilo conta que para a próxima edição a proposta é trazer bandas jovens, formadas por alunos das escolas de Pelotas e região. A ideia é mais uma das contrapartidas desenvolvidas para incentivar diretamente a formação de novos artistas.
Para além das bandas que se apresentaram, muitos outros nomes compõem as mais diversas vertentes do rock autoral em Pelotas e são fundamentais para preservar esse cenário cultural. Algumas dessas bandas são: The Castwhays, Laboratório Suicida, Dontsleep, Between the Apes, She Hoos Go, Coffin Trip, Against The Power, POSTMORTEM, REBAELLIUN, Vetitum.
Preparamos uma playlist com músicas de todas as bandas que se apresentaram no festival. Para acessar basta clicar aqui.
Imagem e redação: Ridley Madrid
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