Áudios obtidos pela PF mostram militares dispostos a uma ‘guerra civil’ para manter Bolsonaro no poder
Txai e Tatoo na ilha dos Lumpa Lumpa (por Leonardo Melgarejo)
Essa semana nosso presidente retornou de outra viagem inútil. Desmascarado em sua pequenez, fugiu vergonhosamente de reunião internacional onde brilhou a jovem guerreira Txai.
Este comentário é sobre o que eles representam.
Bolsonaro, presidente de um dos maiores países do mundo, em reunião com seus pares, no G20, dialogou com garçons. A seguir, fugiu da COP26, espaço onde o Brasil já foi o principal protagonista global. Preferiu passear, descumprindo orientações do Ministério da Saúde Italiano, sobre o uso de máscaras. Quando voltou para casa, de orelha murcha e sob vaias, talvez para se sentir melhor tratou de atribuir a si mesmo importância científica imerecida. Medalhou-se. Medalhou também seu fiel ministro astronauta da Ciência e Tecnologia, aquele chamado de burro pelo vistoso ministro da Economia, e também ao próprio ministro Guedes, que mesmo murchando mantém posição de destaque nas categorias de ganância pessoal e incompetência funcional.
Chocante, ainda, a presença de alguns estudiosos “de verdade”, entre os pares medalhados, naquela distribuição de títulos da Ordem Nacional do Mérito Científico - honraria reservada a "personalidades nacionais e estrangeiras que se distinguiram por suas relevantes contribuições prestadas à Ciência, à Tecnologia e à Inovação”. Situação embaraçosa, ok, mas e daí?
O presidente e seus ministros com certeza mereceram. Se não por outros motivos, ao menos pela redução de 93% nos valores de investimentos nacionais, em pesquisas relativas ao aquecimento global e pelos recordes sucessivos em termos de desastres/crimes ambientais.
É verdade que ai se escondem contradições em relação ao discurso e promessas ambientais apresentadas mês passado, na ONU, e que alguns inocentes possam se decepcionar com isso. Quem sabe por isso o coordenador do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Oswaldo dos Santos Lucon, nomeado por Bolsonaro para aquela função, saltou fora do barco demitindo-se em plena COP26, em Glasgow, na Escócia. Segundo ele, os objetivos do Fórum não estariam sendo cumpridos. “É capaz de existirem pessoas melhores que eu para fazer isso", teria dito em entrevista recente.
Realmente, para todas as funções deste governo, sobram pessoas melhores. No caso dos temas da COP26, basta lembrar os nomes de Valério Pillar, José Alexandre Diniz-Filho, Fábio Scarano, Ary Teixeira de Oliveira Filho, e outros ambientalistas brasileiros incluídos entre os cientistas mais influentes do mundo.
Estes, como a jovem guerreira Txai, sabem que o metabolismo planetário está comprometido por mecanismos corporativos que ameaçam os direitos humanos, os bens comuns e a vida de todos, servindo apenas à ganância e à estupidez de poucos negacionistas, produtores e beneficiários de mistificações científicas e todo tipo de fake news. E se erguem contra isso. E por isso, passam a ser perseguidos, ameaçados, quem sabe mortos, como o professor e guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, citado por Txai. Ela mesma, sofre ameaças desde que, representando a todos os povos, salientou que não há mais tempo a perder. Que as ações globais precisam ser efetivas, que a Natureza deve ser escutada e se fazer representada por parte daqueles que estão na linha de frente desta guerra que ameaça a todos.
Ela sabe que as ameaças funcionam porque os criminosos não possuem freios éticos nem morais. O medo é real e se justifica, trabalhando em favor de canalhas protegidos pelo Estado.
As ameaças se expressam em tentativas de calar ativistas, bloquear ou desacreditar estudiosos que em simples respeito ao método científico básico, já deslegitimariam a maior parte dos conceitos, práticas, produtos e tecnologias predatórias, que alimentam a ganância e o caos.
É preciso aproximar estes conhecimentos empíricos e acadêmicos para superar a ilusão das falsas promessas, das palavras vazias, dos balangandans e das medalhas distribuídas por Tatoo, o anão daquela outra ilha da fantasia, terra dos Lumpa Lumpa. É preciso seguir o brilho de Txai, olhar as estrelas, escutar o vento, as plantas, os animais, o sopro dos que passaram e o suspiro dos que estão por vir.
Lutar pela terra, é lutar pela vida e, como disse Davi Kopenawa, referindo-se ao protagonismo das mulheres indígenas, na luta em defesa das florestas, pela demarcação dos territórios: “nossas filhas estão na guerra porque perceberam que o sacrifício de seus irmãos, nossos filhos, não basta”.
Salve-se a selva ou não se salva o mundo.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko- Brasil de Fato-RS
Leonardo Melgarejo
Engenheiro Agronômo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1976), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1990) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000). Foi representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio (2008-2014) e presidente da AGAPAN (2015-2017). Faz parte da coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos (2018/2020 e 2020-2022) e é colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, do Movimento Ciência Cidadã e da UCSNAL.
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