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Vereador que denunciou uso de verba da saúde para bancar shows é cassado
Em um país em que vários políticos fora-da-lei cometem absurdos e permanecem impunes devido a brechas legislativas ou “ajuda” de amigos, o engenheiro civil Abidan Henrique da Silva, 26 anos, vereador pelo PSB de Embu, na região metropolitana de São Paulo, teve o seu mandato cassado por quebra de decoro parlamentar.
O caso que agita a cidade, mais conhecida como Embu das Artes, teve mais um capítulo no dia de ontem (28). Foram 14 votos favoráveis, um contrário e uma abstenção pela cassação. Ele afirmou que se trata de uma tentativa de vingança e disse que entrará com uma ação na Justiça para tentar anular a decisão.
Dono de uma bela história de superação pessoal baseada no enfrentamento da desigualdade social e da falta de oportunidades — e também no ativismo por uma educação inclusiva no país — Abidan atuava como um guerreiro solitário no Legislativo que integra.
Censura
O motivo alegado para o processo é o fato de, em outubro passado, ao denunciar a postura de colegas (todos, vereadores da base do governo) de esvaziar a sessão da Câmara Municipal para não debater a transferência de R$ 2 milhões da área de Saúde de Embu para a Secretaria de Cultura — o que teve como objetivo pagar os artistas do Embu Country Fest — ele teria se excedido. Na ocasião, utilizou-se de metáfora para dizer que os vereadores “fugiram como ratos”.
“Na minha avaliação essa acusação é absurda porque ela fere um direito básico de um parlamentar que é a sua fala ser inviolável. Eu preciso ter liberdade de expressão pra debater os temas da cidade, sobretudo um tema tão sensível, a retirada de dinheiro da saúde e da segurança”, afirmou o parlamentar, de acordo com o portal g1.
A briga de Abidan com o prefeito Ney Santos (Republicanos) e seu grupo de apoio é antiga em Embu e já teve muitos capítulos. A sessão que vai apreciar o pedido de cassação do seu mandato pelos colegas é avaliada por admiradores do vereador e integrantes do seu partido como perseguição política. Abidan já chegou até a receber ameaças e foi perseguido por um veículo, no final do ano passado, quando registrou um boletim de ocorrência na polícia.
Ao pé da letra
Além de ser considerado “a única voz de oposição de Embu”, Abidan Henrique recebe elogios de políticos, moradores, eleitores e especialistas em ciência política. Eles consideram que o vereador cumpre ao pé da letra os compromissos que o cargo exige: fiscalizar e acompanhar as ações do Executivo, sobretudo em áreas como educação, saúde e segurança pública.
Ele é candidato à reeleição este ano. Uma pesquisa constatou que, se o pleito fosse no primeiro semestre, Abidan despontaria como o vereador mais votado.
A mais recente vitória ao longo da batalha que trava pela boa aplicação de verbas para o município aconteceu na última semana. Por meio de ação civil pública, Abidan conseguiu cancelar na Justiça um show do cantor Leo Santana, que a prefeitura tentou contratar. A apresentação, de acordo com Abidan, teria custado R$ 3 milhões aos cofres públicos. Ele acredita que os recursos deveriam ir para outras áreas prioritárias da cidade.
Antes de ser cassado, o vereador já tinha feito denúncias sobre uso irregular de recursos por parte da prefeitura destinados ao financiamento de shows de outros artistas famosos, como Wesley Safadão, Leonardo e Jorge Matheus.
Inclusão e mudança
Além disso, Abidan é um dos responsáveis pela criação, em 2018, do curso pré-vestibular Km 23, ao lado dos amigos Caio Braga e Guilherme Anjo. Eles oferecem aulas gratuitas para estudantes de Embu e municípios vizinhos. O curso consiste em ação afirmativa de acesso ao ensino superior para alunos de baixa renda. O trio de amigos criou o projeto a partir de parceria com a Sociedade Ecológica Amigos do Embu (Seae). Atende alunos de forma presencial e realiza mentorias, aconselhamento e monitorias online sobre o mercado de trabalho e vivência universitária. Desse modo, o projeto beneficia cerca de 150 estudantes.
Acima de tudo, o vereador costuma declarar que “pela educação, é possível alcançar a igualdade de oportunidades”. “A Lei de Diretrizes e Bases contempla que o ensino precisa se guiar pela igualdade, pluralismo e consideração com a diversidade étnico racial”, enfatiza.
Nesse sentido, antes de inspirar alunos das periferias, ele motivou os próprios pais a mudar de vida. A mãe, Cleide Aparecida de Oliveira, que trabalhou como empregada doméstica por 12 anos, agora é professora. Da mesma forma, o pai, marceneiro durante décadas, se formou em Engenharia. Em 2014, os três — pai, mãe e filho — fizeram juntos a prova do Enem.
Assim, é nesse contexto de disputa política com retaliações de ordem pessoal que muitos grupos e entidades de Embu fazem campanha e coletam assinaturas contra a cassação do vereador. Eles aguardam com expectativa o resultado da votação. Com maioria governista na Câmara, o processo terminou com o vereador cassado.
Fonte: RBA
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